Alberto Abad
Universidade Federal de Juiz de Fora
Thais Marques Abad
Centro de Atendimento a Alunos com Altas Habilidades
Resumen
La investigación cualitativa se constituye en un campo muy amplio con una gran cantidad de métodos, diferentes disciplinas, campos y temas incluyendo variadas perspectivas cualitativas e interpretativas–, que implica el estudio del uso y recolección de una multiplicidad de materiales para describir momentos y significados en la vida de las personas. El análisis de contenido es un conjunto de técnicas para verificar hipótesis y descubrir qué hay detrás del contenido manifiesto, interpretando y entendiendo los fenómenos en términos de los significados que las personas les dan. De tal forma, el objetivo de este texto es considerar las características de la Investigación Cualitativa en general y del Análisis de Contenido en particular. La metodología empleada se basa en una búsqueda bibliográfica descriptiva que incluye libros y publicaciones periódicas que abordan los temas anteriormente mencionados. Como resultado, se consideró la importancia de la técnica de análisis de contenido en la investigación cualitativa, que facilita la inferencia del área de significado de los entrevistados mediante procedimientos sistemáticos y objetivos para describir el contenido de los mensajes. Considerando que los datos de la investigación cualitativa no se recolectan, sino que se construyen, la investigación cualitativa necesita personas pensantes y creativas que comprendan las áreas de significado de los entrevistados, es decir, las percepciones, los significados que le dan a las cosas y situaciones. Sin embargo, el investigador solo tiene acceso a una parte, a una aproximación de esa área de significado, no al área completa, a una dimensión de la experiencia de estas personas.
Palabras clave: Análisis de Contenido; Investigación Cualitativa.
Resumo
A pesquisa qualitativa é um campo de investigação muito amplo com um grande número de métodos, atravessado por diversas disciplinas, campos e temas –incluindo variadas perspectivas qualitativas e interpretativas–, que envolve o estudo do uso e coleta de uma multiplicidade de materiais para descrever momentos e significados na vida das pessoas. A Análise de Conteúdo é um conjunto de técnicas para a verificação de hipóteses e a descoberta do que está por trás dos conteúdos manifestos, interpretar e entender os fenômenos em termos dos significados que as pessoas a eles conferem. De tal modo, o objetivo desse texto é discorrer sobre as características da Pesquisa Qualitativa em geral e da Análise de Conteúdo em particular. A metodologia empregada está embasada numa pesquisa bibliográfica descritiva que inclui livros e publicações periódicas que abordam as temáticas anteriormente comentadas. Como resultados ponderou-se a importância da técnica de análise de conteúdo na pesquisa qualitativa que facilita a inferência da zona de sentido dos entrevistados por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdo das mensagens. Considerando que os dados da pesquisa qualitativa não se coletam, mas se constroem, a pesquisa qualitativa precisa de pessoas pensantes e criativas que entendam as zonas de sentido dos entrevistados, ou seja, as percepções, os sentidos que dão às coisas e às situações. Não obstante, o pesquisador só tem acesso a uma parte, a uma aproximação dessa zona de sentido – não à zona completa– a uma dimensão da experiência dessas pessoas.
Palavras chave: Análise de Conteúdo; Pesquisa Qualitativa.
Abstract
Qualitative research is a broad field of investigation with different methods, crossed by numerous disciplines, fields, and themes including varied qualitative and interpretative perspectives–, which comprises the study of the use and collection of multiple materials to describe moments and meanings in people’s lives. Content Analysis is a set of techniques for checking hypotheses and discovering what is behind the manifested content, interpreting and understanding the phenomena in terms of the meanings people give them. In such a way, this text aims to talk about Qualitative Research characteristics in general and Content Analysis in particular. The methodology employed is based on a descriptive bibliographic search that includes books and periodical publications that discuss the themes previously mentioned. As a result, we considered the importance of the content analysis technique in qualitative research, which facilitates the interviewees’ meaning inference by systematic and objective procedures for describing the message content. Considering that qualitative research data is not collected, but constructed, qualitative research needs thinking and creative people who understand the interviewees’ meaning areas, that is, the perceptions, the meanings they give to things and situations. Nevertheless, the researcher only has access to a part, to an approximation of that meaning area –not to the hole field– to a dimension of people’s experience.
Key words: Content analysis; Qualitative research.
Introdução
Denzin e Lincoln, (2006) consideram à pesquisa qualitativa como um campo de investigação que atravessa diversas disciplinas, campos e temas, que possui um grande número de métodos e abordagens (entrevista, observação participante, análise interpretativa etc.) que abrange momentos históricos que foram marcados por diferentes teorias epistemológicas (p. ex., paradigma positivista, argumentos pós-positivistas) e que inclui variadas perspectivas qualitativas e interpretativas (hermenêutica, fenomenologia, feminismo etc.) (Denzin & Lincoln, 2006). Os autores complementam que a pesquisa qualitativa envolve o estudo do uso e coleta de uma multiplicidade de materiais empíricos (história de vida, textos e produções culturais, textos observacionais, históricos, interativos e visuais etc.) para descrever os momentos e significados na vida das pessoas.
Qualquer definição da pesquisa qualitativa é uma tarefa complexa devido a que sob esse rótulo são descritas diversas tendências e deve analisar o paradigma imperante que determina o que é uma pesquisa e como deve ser realizada. Neste intuito, Monteiro (2002) faz cinco perguntas a serem consideradas: a primeira (ontológica): Qual é a natureza do cognoscível, da realidade?; a segunda (epistemológica): qual é a natureza da relação o pesquisador ou investigador) e o conhecido ou cognoscível?; terceira (metodológica) como o pesquisador deve procurar o conhecimento?; quarta (ética) qual é o lugar do outro na produção do conhecimento?; e quinta (política) que tipo de relacionamento temos com o outro? Para quem é o conhecimento?
Alguns autores preferem estabelecer a análise do qualitativo em uma perspectiva epistemológica ou Epistemologia Qualitativa (Rey, 2013). Para eles, a pesquisa qualitativa deve ser alicerçada no campo histórico ao estar integrada em um conjunto de práticas materiais e interpretativas que visibilizam e transformam o mundo em uma série de representações sociais (notas de campo, entrevistas, conversas, fotografias, gravações, lembretes etc.) (Denzin & Lincoln, 2006). Os pesquisadores, destarte, estudam as coisas em seus cenários naturais com o objetivo de interpretar e entender os fenômenos em termos dos significados que as pessoas a eles conferem.
Considerando que os dados da pesquisa qualitativa não se coletam, mas se constroem, e entendendo a importância da descrição, análise e interpretação dos dados no campo da pesquisa qualitativa nas disciplinas humanas, o objetivo deste texto é discorrer sobre as características da Pesquisa Qualitativa em geral, e da Análise de Conteúdo em particular. Para isso, iniciar-se‑á com uma análise entre a pesquisa qualitativa e quantitativa, a seguir, utilizando o termo de Lévi-Strauss bricoleur, comentar-se-ão as características gerais da pesquisa qualitativa e os delineamentos gerais nas ciências sociais, para finalmente comentar a técnica de análise de conteúdo.
Pesquisa qualitativa versus pesquisa quantitativa
Quando a pesquisa qualitativa retornou com força, no final dos anos 1960, mas, principalmente, na metade dos anos 1970, seus partidários pretendiam que ela apresentasse características particulares; na opinião de seus promotores mais zelosos, a pesquisa qualitativa recorria a técnicas que a diferenciavam, radicalmente, da pesquisa quantitativa (Deslauriers & Kérisit, 1992).
Os pesquisadores do modelo qualitativo têm sido denominados injustamente como cientistas das soft sciences, como produtores de um trabalho não-científico subjetivo e exploratório sem nenhum método para verificar a verdade objetiva e, portanto, como escritores de ficção e não de textos científicos (Denzin & Lincoln, 2006). Em contraste, os pesquisadores no modelo qualitativo têm seguido um conceito de ciência centrado na acumulação de dados quantificáveis e suscetíveis de verificação imediata utilizando estatística e evidências observáveis (Rey, 2013).
Além do anterior, a informação é a frequência com que surgem certas características de conteúdo mostram as diferenças entre as abordagens quantitativa e qualitativa. Nesta, o foco está na presença ou a ausência da característica num determinado fragmento de mensagem, naquela, procura-se a frequência com que surgem certas características do conteúdo (Bardin, 1977). Assim, essa necessidade de quantificar, medir e verificar, tem enfatizado o instrumentalismo do processo de coleta de informação nas ciências sociais que resulta em um debate teórico-epistemológico ao falar de metodologia qualitativa (Rey, 2013). Sem essa revisão epistemológica, existe o risco de legitimar o qualitativo por meio dos instrumentos utilizados.
A Epistemologia Qualitativa, em breve, defende o caráter construtivo interpretativo do conhecimento, a ênfase está em compreender o conhecimento não como uma apropriação linear da realidade e sim como uma construção, como uma produção humana (Rey, 2013). O termo “qualitativo” enfatiza as qualidades, processos e significados que não são examinados ou medidos experimentalmente em termos de frequência, intensidade, quantidade ou volume (Denzin & Lincoln, 2006). O conhecimento se legitima na sua capacidade de gerar novas zonas de inteligibilidade e da articulação de modelos úteis para a produção de novos conhecimentos (Rey, 2013), assim o pesquisador qualitativo observa como a experiência social é criada e adquire significado em uma ótica contrária à fragmentação arbitrária da realidade através de procedimentos experimentais e estatísticos.
Rey (2013) considera que a legitimação do singular como instância de produção do conhecimento científico e o ato de compreender a pesquisa como um processo de comunicação, um processo dialógico são outras das características da Epistemologia Qualitativa. O autor explica que nas ciências sociais criou-se a expectativa de que a pesquisa deve ser legitimada por processos de significação estatística ou pela observação e verificação perante aquilo que se repete em situações similares, numa ênfase na normalização excluindo o idiossincrático.
… a pesquisa qualitativa como um processo de construção dinâmico, no qual as hipóteses do pesquisador estão associadas a um modelo teórico que mantém uma constante tensão com o momento empírico e cuja legitimidade está na capacidade do modelo para ampliar tanto suas alternativas de inteligibilidade sobre o estudo como seu permanente aprofundamento em compreender a realidade estudada como sistema (Rey, 2013, p. 13)
Becker (1996) considera que a pesquisa qualitativa difere da quantitativa em cinco aspectos: 1) nos usos do positivismo (existe uma realidade lá fora para ser estudada, captada e compreendida) e do pós-positivismo (a realidade nunca pode ser plenamente apreendida, apenas aproximada); 2) a aceitação das sensibilidades pós-modernas (consideram que os critérios positivistas e pós-positivistas reproduzem apenas um certo tipo de ciência que silencia um enorme número de vozes – nomoteticismo – ideograficismo); 3) uma forma de captar o ponto de vista do indivíduo; 4) um exame das limitações do cotidiano (postura ideográfica); e, 5) garantia da riqueza das descrições.
Assim, a diferencia dos modelos matemáticos, gráficos e tabelas estatísticas resumidos em uma prosa impessoal em terceira pessoa empregados pelos pesquisadores quantitativos, os qualitativos utilizam narrativas históricas, materiais biográficos e autobiográficos escritos, geralmente em primeira pessoa (Denzin & Lincoln, 2006).
O pesquisador qualitativo como bricoleur
Lévi-Strauss em seu livro “O Pensamento Selvagem” (1962) empregou o termo bricolage para descrever uma construção espontânea sem rigor científico que assume novas formas através do tempo e através de uma diversidade de representações e interpretações (p. ex., a mitologia descreve o mundo através de metáforas e narrativas). Denzin e Lincoln, (2006) argumentam que existem, na pesquisa qualitativa, existem muitos tipos de bricoleurs (interpretativo, narrativo, teórico, político etc.) que reúnem peças montadas que se encaixam nas especificidades de uma situação complexa. De tal modo, a pesquisa qualitativa exige uma triangulação de métodos, teorias e metodologias diferentes (a maneira de bricolagem) e deve considerar o contexto, a história pessoal, o gênero, a etnicidade, a classe social (Denzin & Lincoln, 2006) para compreender o fenômeno analisado. A triangulação serve como uma alternativa para a validação (Flick, 1998).
Contudo, a pesquisa qualitativa não possui uma metodologia própria, não privilegia nenhuma única prática metodológica em relação a outra e, ao ser empregada em muitas disciplinas distintas, não pertence a uma única disciplina (Denzin & Lincoln, 2006). Portanto, há dificuldades para estabelecer uma definição ao ser um campo interdisciplinar e transdisciplinar com foco multiparadigmático que inclui diversas áreas do conhecimento (p. ex., humanidades, ciências sociais e ciências exatas) (Nelson, Treichler & Grossberg, 1992).
Delineamento
Alguns autores distinguem cinco tipos de delineamentos nas ciências sociais: o estudo de caso, a comparação multi-caso, a experimentação no campo, a experimentação em laboratório e a simulação por computador, cada um apresentando elementos distintivos (Deslauriers & Kérisit, 1992) que devem ser alicerçados nos objetivos da pesquisa e da parcimônia dos meios (Selltiz. Wrightsman & Cook, 1977). Outros autores consideram seis delineamentos: o estudo descritivo, análise normativa, análise trans seccional, análise longitudinal, estudos que funcionam com indicadores culturais (considerando multiplex contextos por longos períodos de tempo, e delineamentos paralelos combinando análises longitudinais com outros dados longitudinais (pesquisas de opinião, entrevistas etc.) (Bauer, 2002).
O delineamento de pesquisa varia com base na interação dos dados e do tipo de análise; os dados quantitativos podem ser analisados de modo quantitativo ou qualitativo (p. ex., a análise de discurso), ou os dados qualitativos de modo quantitativo ou qualitativo (representando a maioria dos delineamentos da pesquisa qualitativa) (Deslauriers & Kérisit, 1992). Contudo, a metodologia da pesquisa qualitativa possui fortalezas (p. ex., não pode ser realizada de forma experimental por razões práticas ou éticas) e fortalezas (p ex., as pesquisas descritivas e exploratórias; estudos do cotidiano e do ordinário; o estudo do transitório; o estudo do sentido da ação) (Deslauriers & Kérisit, 1992)].
Deslauriers e Kérisit (1992) analisam as diferentes etapas do processo da pesquisa qualitativa que têm características diferenciadas: no tocante a seu objeto, este geralmente se constrói progressivamente a partir da interação com os dados coletados e a análise destes, sendo, portanto, uma abordagem diferente à hipotético-dedutiva. Este tipo de pesquisa evita tomar como ponto de partida uma teoria simplificadora (Deslauriers & Kérisit, 1992). Para esses autores, devido a coleta de dados ser realizada em campo, há de respeitar as características do meio social (critério da ética) que respeita o tipo de amostra (geralmente de tipo não probabilístico que se constitui em função das características que o pesquisador pretende analisar (amostra por cotas, amostra acidental, amostra bola de neve etc.)
Finamente a análise dos dados procura encontrar um sentido para os dados coletados e demonstrar como estão relacionados ao problema de pesquisa, destarte, ocupando um lugar destacado na pesquisa qualitativa (Deslauriers & Kérisit, 1992). Pode-se mesmo dizer que a renovação que a pesquisa qualitativa conheceu no decorrer dos últimos anos se deve aos progressos realizados na análise de dados (Deslauriers & Kérisit, 1992). De fato, os progressos realizados na análise de dados têm alavancado o desenvolvimento da pesquisa qualitativa (Glaser & Strauss, 1967).
Análise de Conteúdo
Minayo, Deslandes e Gomes (2001) consideram que a análise de conteúdo, na atualidade é compreendida como um conjunto de técnicas com suas funções principais na sua aplicação: a verificação de hipóteses e a descoberta do que está por trás dos conteúdos manifestos (de Souza Minayo, Deslandes & Gomes, 2001). Os empregos destas técnicas são variados (análise de textos, identificação do estilo de um escritor, análise de depoimentos etc.), destacando a análise e interpretação dos fenômenos sociais.
Neste sentido, Gomes (2007), no intuito de interpretar e entender os fenômenos sociais considera imprescindível reconhecer que a finalidade da análise e da interpretação na pesquisa qualitativa é a exploração do conjunto de representações sociais sobre o tema que se deseja estudar; o autor ainda discorre que ao analisar e interpretar as informações resultantes da pesquisa qualitativa é importante dar atenção tanto ao que é homogêneo quanto no heterogêneo dentro de um mesmo meio social (Gomes, 2007).
Segundo Wolcott (1994), as diferenças conceituais entre os termos análise, interpretação e descrição são essenciais. Para o autor, a descrição das informações ou das opiniões dos entrevistados deve ser apresentada da maneira mais fiel possível. Posteriormente, a análise dessas informações objetiva ir além dessa primeira descrição. Já na interpretação buscam-se sentidos das ações e das falas para explicar ou compreender além do descrito e analisado (Wolcott, 1994).
Assim, a análise de conteúdo considera-se como um “conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de predição/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (Bardin, 1977, p. 42). Nada obstante, o uso e aplicação deste conjunto de técnicas é muito variado como exemplificado por Gomes (2007) a partir do código e suporte: linguístico-escrito (p. ex., agenda, cartas, jornais), linguístico-oral (sonhos, entrevistas, palestras etc.), iconográfico (imagens, filmes, cartazes etc.) e outros códigos semióticos (dança, vestuário, música etc.).
Dentre as técnicas que são utilizadas para analisar conteúdos, é possível citar a análise representacional (atitudes do locutor quanto aos objetos de que fala), a análise de expressão (traços pessoais do autor que fala), a análise de enunciação (produção da palavra, estruturas gramaticais, organização do discurso, figuras retóricas) (Gomes, 2007), análise das relações (relações que os elementos do texto mantêm entre si), apesar disso, destaca-se: a análise categorial que funciona mediante o desmembramento do texto em unidades (categorias); dentre as diferentes possibilidades de categorização, a análise dos conteúdos é a mais efetiva para investigar as significações manifestas (Bardin, 1977). A análise de conteúdo considera o tema como a unidade de significação do texto analisado e consiste na descoberta de núcleos de sentido que constituem a comunicação e cuja frequência de aparição tem significado para o objetivo analítico (Bardin, 1977).
Procedimentos metodológicos e organização da análise de conteúdo
Gomes (2007) enumera quatro procedimentos metodológicos da análise de conteúdo: categorização (descompor o material em partes e distribui-las em categorias); descrição do resultado da categorização; inferência dos resultados; e interpretação (com auxílio da fundamentação teórica adotada) (Gomes, 2007). Por seu lado, Bardin (1977) e Minayo (2001) enunciam três fases da análise de conteúdo: pré-análise; exploração do material; e tratamento dos resultados, a inferência e interpretação.
Pré-análise
Considerando as três formas de tratamento dos dados qualitativos (análise, interpretação e descrição) não são mutuamente excludentes, ou seja, que não existem fronteiras entre a coletas das informações, a sua análise e interpretação (Gomes, 2007) é necessário sistematizar e operacionalizar as ideias iniciais para conduzir um esquema preciso do desenvolvimento das operações sucessivas, num plano de análise (Bardin, 1977).
Neste sentido, os objetivos da pré-análise são: escolher os documentos a serem submetidos à análise; formulação das hipóteses e dos objetivos; e a elaboração de indicadores que fundamentem a interpretação final (Bardin, 1977). Contudo na definição do campo do corpus é importante seguir algumas diretrizes: exaustividade (é preciso terem-se em conta todos os elementos desse corpus), representatividade (caso se utilize uma amostra esta deve ser parte representativa do universo inicial), homogeneidade (os documentos retidos devem obedecer a critérios precisos de escolha), e pertinência (os documentos retidos devem ser adequados, enquanto fonte de informação e hão de corresponder ao objetivo) (Bardin 1977).
Uma vez definido o campo do corpus, e formuladas as hipóteses e objetivos, o seguinte passo é a elaboração e organização sistemática de indicadores (Bardin, 1977) considerando que a técnica de análise temática consiste em descobrir estes indicadores – ou núcleos de sentido – presentes na comunicação e cuja presença possui importância analítica para o objetivo da pesquisa (Gomes, 2007). Neste momento, com base nos objetivos da pesquisa, é preciso definir a unidade de registro, a unidade de contexto, os trechos significativos e as categorias (de Souza Minayo, Deslandes & Gomes, 2001).
As unidades de registro se obtêm quando a mensagem é descomposta em elementos significativos (palavra, frase, oração, tema etc.), já as unidades de contexto representam uma referência mais ampla para a comunicação (Bardin, 1977). Cada unidade de registro se deve ajustar a um código, sendo este único para essa unidade. O referencial de codificação é um modo sistemático de comparação com o qual o pesquisador trata os materiais e consegue as respostas (Bauer, 2002).
A categorização é definida por Bardin (1977) como a classificação de elementos característicos de um conjunto – por diferenciação e reagrupamento – com critérios previamente definidos. As categorias reúnem um grupo de elementos (unidades de registro). Adicionalmente, o critério de categorização pode ser semântico (categorias temáticas), sintático (verbos, adjetivos etc.), léxico (emparelhamento de sinónimos e sentidos próximos) e expressivo (Bardin, 1977). O material reunido deve ser preparado (transcrição das entrevistas, fichamento de artigos e livros, adequação informática dos conteúdos etc.).
Exploração do material
Esta fase, consiste fundamentalmente em codificar, descontar e enumerar o material em função de regras previamente formuladas (Bardin, 1977). De tal modo, se elaboram as categorias propriamente ditas, as quais podem ser criadas a priori (antes da análise), a posteriori (permitindo que a análise de conteúdo do material deixe emergir essas categorias), ou inclusive, uma análise híbrida.
Tratamento dos resultados, inferência e interpretação
Esta fase da pesquisa geralmente ocorre a partir de princípios de um tratamento quantitativo (de Souza Minayo, Deslandes & Gomes, 2001). Os resultados brutos são tratados de maneira a serem significativos e válidos, utilizando a estatística simples (percentagens) ou complexa (análise fatorial) e podem ser representados em digramas, figuras e modelos (Bardin, 1977).
A inferência desses resultados sugere partir de premissas previamente aceitas a partir de outras investigações sobre o assunto analisado (Gomes, 2007). Nesse sentido, Bardin (1977) aconselha que o pesquisador elabore perguntas que facilitem a inferência desses resultados: quem diz o quê, a quem e para que? (Gomes, 2007). O autor define as inferências como deduções lógicas que além de descrever os dados, procura a mensagem implícita por traz do material analisado (Bardin, 1977).
Portanto, dentre as características da análise de conteúdo Bauer (2002) salienta a possibilidade de produzir inferências a partir de um texto focal para seu contexto social o qual pode ser temporalmente inacessível ao pesquisador. O autor acrescenta: ao considerar os objetivos da análise de conteúdo com base no caráter triple da mediação simbólica (o símbolo representa o mundo, esta representação precisa de uma fonte que faz apelo a um público), ao focarmos na fonte, o texto é um médio de expressão que aloca ao público e ao contexto como foco da inferência (Bauer, 2002). Outrossim, a inferência implica a reconstrução das representações a partir da dimensão sintática (combinação dos signos) para a dimensão semântica (sentido das palavras e interpretação dos enunciados) (Gomes, 2007).
No que tange à interpretação – a partir de uma fundamentação metodológica – o pesquisador vá além do material – procura atribuir um grau de significação mais ampla aos conteúdos que foram analisados (Gomes, 2007). Um significado que relaciona as estruturas semânticas – ou em termos de Saussure (2008), significantes – e as estruturas sociológicas presentes na mensagem (significados) (Gomes, 2007). Em resumo, a interpretação é realizada no momento de sintetizar a perspectiva teórica adotada, as questões e objetivos de pesquisa, os resultados obtidos, e as inferências realizadas (Gomes, 2007).
Considerações Finais
O conjunto de técnicas incluídas dentro da Análise de Conteúdo possuem um potencial de aplicação dentro da Pesquisa Qualitativa ao facilitar a inferência da zona de sentido dos entrevistados por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdo das mensagens. Considerando que os dados da pesquisa qualitativa não se coletam, mas se constroem, a pesquisa qualitativa precisa de pessoas pensantes e criativas que entendam as zonas de sentido dos entrevistados, ou seja, as percepções, os sentidos que dão às coisas e às situações. Não obstante, o pesquisador só tem acesso a uma parte, a uma aproximação dessa zona de sentido – não à zona completa – a uma dimensão da experiência dessas pessoas.
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