DIRETRIZES MULTICULTURAIS DA ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSICOLOGIA E O MODELO DE SECCHI

Alberto Abad

Universidade Federal de Juiz de Fora

Resumo

Nas últi­mas décadas, a diver­si­dade cul­tur­al glob­al aumen­tou dev­i­do à glob­al­iza­ção, migração e avanços tec­nológi­cos, apre­sen­tan­do desafios para a psi­colo­gia, espe­cial­mente no atendi­men­to de pop­u­lações diver­sas. No Brasil, essa deman­da é acen­tu­a­da pela diver­si­dade étni­ca e cul­tur­al. No entan­to, muitos psicól­o­gos care­cem de com­petên­cias mul­ti­cul­tur­ais e enfrentam resistên­cia insti­tu­cional para adap­tar suas práti­cas. Este arti­go anal­isa a importân­cia da imple­men­tação das dire­trizes mul­ti­cul­tur­ais da Asso­ci­ação Amer­i­cana de Psi­colo­gia (APA) na práti­ca psi­cológ­i­ca, uti­lizan­do o mod­e­lo de sete fas­es de políti­cas públi­cas de Leonar­do Sec­chi. O obje­ti­vo é explo­rar como essas dire­trizes podem ser incor­po­radas de maneira efi­caz, pro­moven­do uma práti­ca inclu­si­va e social­mente respon­sáv­el. Ape­sar dos desafios, como a escassez de recur­sos e resistên­cia à mudança, a colab­o­ração entre profis­sion­ais e insti­tu­ições pode pro­mover uma práti­ca mais jus­ta e coesa.

Palavras-chave: Diver­si­dade cul­tur­al, psi­colo­gia, dire­trizes mul­ti­cul­tur­ais, políti­cas públi­cas, mod­e­lo de Sec­chi, com­petên­cia multicultural.

Resumen

En las últi­mas décadas, la diver­si­dad cul­tur­al glob­al ha aumen­ta­do debido a la glob­al­ización, la migración y los avances tec­nológi­cos, pre­sen­tan­do desafíos para la psi­cología, espe­cial­mente en la aten­ción de pobla­ciones diver­sas. En Brasil, esta deman­da se acen­túa por la diver­si­dad étni­ca y cul­tur­al del país. Sin embar­go, muchos psicól­o­gos care­cen de com­pe­ten­cias mul­ti­cul­tur­ales y enfrentan resisten­cia insti­tu­cional para adap­tar sus prác­ti­cas. Este artícu­lo anal­iza la impor­tan­cia de la imple­mentación de las direc­tri­ces mul­ti­cul­tur­ales de la Aso­ciación Amer­i­cana de Psi­cología (APA) en la prác­ti­ca psi­cológ­i­ca, uti­lizan­do el mod­e­lo de siete fas­es de políti­cas públi­cas de Leonar­do Sec­chi. El obje­ti­vo es explo­rar cómo estas direc­tri­ces pueden ser incor­po­radas de man­era efi­caz, pro­movien­do una prác­ti­ca inclu­si­va y social­mente respon­s­able. A pesar de los desafíos, como la escasez de recur­sos y la resisten­cia al cam­bio, la colab­o­ración entre pro­fe­sion­ales e insti­tu­ciones puede pro­mover una prác­ti­ca más jus­ta y cohesionada.

Pal­abras clave: Diver­si­dad cul­tur­al, psi­cología, direc­tri­ces mul­ti­cul­tur­ales, políti­cas públi­cas, mod­e­lo de Sec­chi, com­pe­ten­cia multicultural.

Abstract

In recent decades, glob­al cul­tur­al diver­si­ty has increased due to glob­al­iza­tion, migra­tion, and tech­no­log­i­cal advances, pre­sent­ing chal­lenges for psy­chol­o­gy, espe­cial­ly in serv­ing diverse pop­u­la­tions. In Brazil, this demand is height­ened by the country’s eth­nic and cul­tur­al diver­si­ty. How­ev­er, many psy­chol­o­gists lack mul­ti­cul­tur­al com­pe­ten­cies and face insti­tu­tion­al resis­tance in adapt­ing their prac­tices. This arti­cle exam­ines the impor­tance of imple­ment­ing the Amer­i­can Psy­cho­log­i­cal Asso­ci­a­tion (APA) mul­ti­cul­tur­al guide­lines in psy­cho­log­i­cal prac­tice, using Leonar­do Sec­chi’s sev­en-phase pub­lic pol­i­cy mod­el. The goal is to explore how these guide­lines can be effec­tive­ly incor­po­rat­ed, pro­mot­ing inclu­sive and social­ly respon­si­ble prac­tice. Despite chal­lenges, such as resource scarci­ty and resis­tance to change, col­lab­o­ra­tion among pro­fes­sion­als and insti­tu­tions can fos­ter a more just and cohe­sive practice.

Key­words: Cul­tur­al diver­si­ty, psy­chol­o­gy, mul­ti­cul­tur­al guide­lines, pub­lic poli­cies, Sec­chi mod­el, mul­ti­cul­tur­al competence.

Introdução

A diver­si­dade cul­tur­al tem se inten­si­fi­ca­do nas últi­mas décadas, resul­tan­do em sociedades cada vez mais mul­ti­cul­tur­ais. Esse fenô­meno impõe novos desafios aos profis­sion­ais de psi­colo­gia, que pre­cisam estar prepara­dos para aten­der indi­ví­du­os de difer­entes con­tex­tos cul­tur­ais de maneira ade­qua­da. Recon­hecen­do essa neces­si­dade, a Asso­ci­ação Amer­i­cana de Psi­colo­gia (APA) pub­li­cou, em 2017, as “Dire­trizes Mul­ti­cul­tur­ais: Uma Abor­dagem Ecológ­i­ca ao Con­tex­to, Iden­ti­dade e Inter­sec­cional­i­dade” (2017). Essas dire­trizes visam ori­en­tar os profis­sion­ais na pro­moção de práti­cas mais inclu­si­vas e sen­síveis às com­plex­i­dades das iden­ti­dades culturais.

A imple­men­tação efi­caz dessas dire­trizes não é um proces­so ime­di­a­to; requer uma abor­dagem estru­tu­ra­da que con­sidere as múlti­plas eta­pas envolvi­das na for­mu­lação e exe­cução de políti­cas e práti­cas profis­sion­ais. Nesse con­tex­to, o mod­e­lo de políti­cas públi­cas pro­pos­to por Leonar­do Sec­chi apre­sen­ta-se como uma fer­ra­men­ta analíti­ca valiosa (Abad, 2017). Seu mod­e­lo de sete fas­es –iden­ti­fi­cação do prob­le­ma, for­mação da agen­da, for­mu­lação de alter­na­ti­vas, toma­da de decisão, imple­men­tação, avali­ação e extinção – ofer­ece um frame­work sis­temáti­co para anal­is­ar e guiar a inte­gração de políti­cas e dire­trizes em difer­entes áreas.

Este arti­go tem como obje­ti­vo anal­is­ar a importân­cia da imple­men­tação das dire­trizes mul­ti­cul­tur­ais da APA na psi­colo­gia, uti­lizan­do o mod­e­lo de sete fas­es de políti­cas públi­cas de Sec­chi como base analíti­ca. Ao explo­rar cada eta­pa do mod­e­lo, bus­ca-se com­preen­der como as dire­trizes podem ser incor­po­radas de maneira efi­caz nas práti­cas psi­cológ­i­cas e nas políti­cas insti­tu­cionais, con­tribuin­do para a for­mação de profis­sion­ais mais com­pe­tentes em questões mul­ti­cul­tur­ais (Abad, 2022).

A relevân­cia des­ta análise vai além do cam­po profis­sion­al, impactan­do a sociedade como um todo. A adoção de práti­cas psi­cológ­i­cas que val­orizam a diver­si­dade cul­tur­al pro­move não ape­nas o bem-estar indi­vid­ual, mas tam­bém for­t­alece o teci­do social ao fomen­tar a com­preen­são e o respeito mútuo entre difer­entes gru­pos (Abad, 2024). Por­tan­to, a inte­gração das dire­trizes mul­ti­cul­tur­ais da APA, guia­da pelo mod­e­lo de Sec­chi, rep­re­sen­ta um pas­so sig­ni­fica­ti­vo rumo a uma psi­colo­gia mais inclu­si­va e social­mente responsável.

Contextualização

Nas últi­mas décadas, o mun­do tem viven­ci­a­do um aumen­to sig­ni­fica­ti­vo na diver­si­dade cul­tur­al dev­i­do a fatores como glob­al­iza­ção, migração e avanços tec­nológi­cos que facili­tam a comu­ni­cação entre difer­entes sociedades. Esse cenário resul­tou em pop­u­lações cada vez mais het­erogêneas, onde aspec­tos como raça, etnia, gênero, ori­en­tação sex­u­al, religião e sta­tus socioe­conômi­co inter­agem de maneira com­plexa. Para a psi­colo­gia, essa real­i­dade apre­sen­ta desafios e opor­tu­nidades na prestação de serviços que aten­dam às neces­si­dades de uma clien­tela diver­sa (Abad, 2024).

A com­petên­cia mul­ti­cul­tur­al na psi­colo­gia ref­ere-se à capaci­dade dos profis­sion­ais de recon­hecer, respeitar e inte­grar as difer­enças cul­tur­ais em suas práti­cas clíni­cas, pesquisas e ativi­dades educacionais

Segun­do Sue e Sue (2022), essa com­petên­cia é essen­cial para evi­tar vieses e pre­con­ceitos que pos­sam com­pro­m­e­ter a eficá­cia das inter­venções psi­cológ­i­cas. Profis­sion­ais cul­tural­mente com­pe­tentes são capazes de esta­b­ele­cer alianças ter­apêu­ti­cas mais sól­i­das, com­preen­der mel­hor as man­i­fes­tações de sofri­men­to psíquico em difer­entes con­tex­tos cul­tur­ais e adap­tar suas téc­ni­cas de inter­venção às neces­si­dades especí­fi­cas de cada indivíduo.

No con­tex­to brasileiro, a importân­cia da com­petên­cia mul­ti­cul­tur­al é ampli­fi­ca­da pela vas­ta diver­si­dade étni­ca e cul­tur­al do país. Pop­u­lações indí­ge­nas, afrode­scen­dentes, quilom­bo­las, migrantes e refu­gia­dos com­põem o mosaico cul­tur­al brasileiro, trazen­do con­si­go difer­entes cos­mo­visões, práti­cas soci­ais e sis­temas de crenças. Con­forme apon­ta­do por Mclean et al. (2003), a fal­ta de sen­si­bil­i­dade cul­tur­al pode resul­tar em bar­reiras de aces­so aos serviços de saúde men­tal e em práti­cas que reforçam desigual­dades e exclusões sociais.

Além dis­so, o con­ceito de inter­sec­cional­i­dade, intro­duzi­do por Cren­shaw (1989), desta­ca como múlti­p­los aspec­tos da iden­ti­dade –como gênero, raça e classe social– se sobrepõem, crian­do exper­iên­cias úni­cas de opressão ou priv­ilé­gio. Na práti­ca psi­cológ­i­ca, igno­rar essas inter­secções pode levar a diag­nós­ti­cos impre­cisos e inter­venções inad­e­quadas. Por­tan­to, é fun­da­men­tal que os profis­sion­ais adotem uma per­spec­ti­va que con­sidere a com­plex­i­dade das iden­ti­dades dos clientes (Abad, 2022).

A abor­dagem ecológ­i­ca, basea­da no mod­e­lo de Bron­fen­bren­ner (1979), tam­bém ofer­ece uma com­preen­são apro­fun­da­da de como os difer­entes sis­temas (microssis­tema, mesos­sis­tema, exos­sis­tema e macrossis­tema) influ­en­ci­am o desen­volvi­men­to humano. Essa per­spec­ti­va enfa­ti­za que o com­por­ta­men­to indi­vid­ual não pode ser desvin­cu­la­do do con­tex­to social, econômi­co e políti­co em que está inseri­do. Para a psi­colo­gia mul­ti­cul­tur­al, isso sig­nifi­ca recon­hecer como fatores como dis­crim­i­nação sistêmi­ca, políti­cas públi­cas e dinâmi­cas comu­nitárias afe­tam a saúde mental.

As Diretrizes Multiculturais da APA (2017)

Recon­hecen­do a neces­si­dade de ori­en­tar os profis­sion­ais diante dess­es desafios, as “Dire­trizes Mul­ti­cul­tur­ais: Uma Abor­dagem Ecológ­i­ca ao Con­tex­to, Iden­ti­dade e Inter­sec­cional­i­dade” rep­re­sen­tam uma evolução das ver­sões ante­ri­ores, incor­po­ran­do novos entendi­men­tos sobre iden­ti­dade, poder e priv­ilé­gio, e enfa­ti­zan­do a neces­si­dade de uma abor­dagem mais holís­ti­ca e contextualizada.

As dire­trizes são estru­tu­radas em torno de princí­pios que incen­ti­vam os psicól­o­gos a:

  • Recon­hecer e enten­der que a iden­ti­dade e a autodefinição são flu­idas e com­plexas, e que a inter­ação entre ambas é dinâmi­ca. Para esse fim, os psicól­o­gos com­preen­dem que a inter­sec­cional­i­dade é molda­da pela mul­ti­pli­ci­dade dos con­tex­tos soci­ais do indi­ví­duo (dire­triz 1).
  • Recon­hecer e com­preen­der que, como seres cul­tur­ais, eles pos­suem ati­tudes e crenças que podem influ­en­ciar suas per­cepções e inter­ações com os out­ros, bem como suas con­ceitu­ações clíni­cas e empíri­c­as. Assim, os psicól­o­gos se esforçam para ir além de con­ceitu­ações enraizadas em suposições categóri­c­as, vieses e/ou for­mu­lações baseadas em con­hec­i­men­to lim­i­ta­do sobre indi­ví­du­os e comu­nidades (dire­triz 2).
  • Enten­der o papel do con­tex­to: Desta­ca a importân­cia de avaliar como os ambi­entes soci­ais, políti­cos e históri­cos afe­tam o bem-estar psi­cológi­co (dire­triz 4).
  • Pro­mover justiça e equidade: Incen­ti­va ações que abor­dem desigual­dades sistêmi­cas e pro­movam o aces­so equi­tati­vo aos serviços de saúde men­tal (per­me­ia todas as diretrizes).
  • Desen­volver práti­cas cul­tural­mente adap­tadas: Recomen­da a adap­tação de inter­venções e téc­ni­cas para serem cul­tural­mente rel­e­vantes e efi­cazes (dire­triz 6).
  • Con­duzir pesquisas, ensi­no, super­visão, con­sul­to­ria, avali­ação, inter­pre­tação, diag­nós­ti­co, dis­sem­i­nação e avali­ação de eficá­cia cul­tural­mente apro­pri­a­dos e infor­ma­dos, ao abor­darem os primeiros qua­tro níveis do Mod­e­lo Ecológi­co em Camadas das Dire­trizes Mul­ti­cul­tur­ais (dire­triz 9).

As dire­trizes tam­bém enfa­ti­zam a importân­cia da autor­reflexão con­tínua por parte dos profis­sion­ais. Isso inclui o recon­hec­i­men­to de seus próprios pre­con­ceitos, priv­ilé­gios e lim­i­tações cul­tur­ais, bem como o com­pro­mis­so com o cresci­men­to pes­soal e profis­sion­al (APA, 2017).

A imple­men­tação dessas dire­trizes enfrenta diver­sos desafios. Um dos prin­ci­pais é a resistên­cia insti­tu­cional à mudança. Muitas orga­ni­za­ções e sis­temas de saúde men­tal podem estar enraiza­dos em práti­cas tradi­cionais que não con­sid­er­am ade­quada­mente a diver­si­dade cul­tur­al (Mood­ley & Ocam­po, 2014). Além dis­so, há uma escassez de recur­sos e treina­men­tos especí­fi­cos que capacitem os profis­sion­ais a aplicar essas dire­trizes efe­ti­va­mente em sua práti­ca diária.

Nesse con­tex­to, o mod­e­lo de políti­cas públi­cas de Leonar­do Sec­chi (2014) ofer­ece um frame­work estru­tu­ra­do para ori­en­tar a imple­men­tação dessas dire­trizes. Com­pos­to por sete fas­es –iden­ti­fi­cação do prob­le­ma, for­mação da agen­da, for­mu­lação de alter­na­ti­vas, toma­da de decisão, imple­men­tação, avali­ação e extinção– o mod­e­lo per­mite uma análise sis­temáti­ca dos proces­sos necessários para inte­grar as dire­trizes mul­ti­cul­tur­ais nas práti­cas psi­cológ­i­cas e políti­cas institucionais.

Implementação das Diretrizes Multiculturais da APA Através do Modelo de Secchi: Impactos na Psicologia e na Sociedade

Identificação do Problema

A fase ini­cial do mod­e­lo de Sec­chi é a iden­ti­fi­cação do prob­le­ma (Abad, 2017), que envolve recon­hecer a neces­si­dade de apri­morar a com­petên­cia mul­ti­cul­tur­al entre os profis­sion­ais de psi­colo­gia. A fal­ta dessa com­petên­cia resul­ta em práti­cas inad­e­quadas, diag­nós­ti­cos impre­cisos e inter­venções inefi­cazes ao aten­der pop­u­lações diver­sas (Sue et al., 2022). Isso com­pro­m­ete a qual­i­dade dos serviços presta­dos e per­pet­ua desigual­dades sociais.

Os impactos neg­a­tivos dessa defi­ciên­cia são sen­ti­dos tan­to pelos profis­sion­ais quan­to pelos clientes. Profis­sion­ais podem exper­i­men­tar frus­tração e esgo­ta­men­to dev­i­do à inca­paci­dade de aten­der ade­quada­mente às neces­si­dades dos clientes (Arredon­do et al., 1996).

Formação da Agenda 

A for­mação da agen­da con­siste em inserir o prob­le­ma na pau­ta de dis­cussão dos stake­hold­ers rel­e­vantes. Isso envolve mobi­lizar asso­ci­ações profis­sion­ais, insti­tu­ições acadêmi­cas, órgãos gov­er­na­men­tais e a sociedade civ­il (Sec­chi, 2014) para recon­hecer a importân­cia da com­petên­cia mul­ti­cul­tur­al. A pro­moção de debates, con­fer­ên­cias e cam­pan­has de sen­si­bi­liza­ção amplia a con­sci­en­ti­za­ção e gera pressão para mudanças insti­tu­cionais (Arredon­do et al., 1996).

Esse enga­ja­men­to cole­ti­vo tem um impacto sig­ni­fica­ti­vo na psi­colo­gia ao estim­u­lar a colab­o­ração inter­dis­ci­pli­nar e pro­mover uma cul­tura de apren­diza­do con­tín­uo (Vester­gren et al., 2019). Na sociedade, aumen­ta a vis­i­bil­i­dade das questões rela­cionadas à diver­si­dade e inclusão, incen­ti­van­do uma par­tic­i­pação mais ati­va das comu­nidades na bus­ca por soluções.

Formulação de Alternativas

Na fase de for­mu­lação de alter­na­ti­vas, desen­volvem-se estraté­gias para abor­dar o prob­le­ma iden­ti­fi­ca­do. Algu­mas alter­na­ti­vas incluem:

  • Revisão Cur­ric­u­lar: Atu­alizar os cur­rícu­los acadêmi­cos para incluir con­teú­dos sobre mul­ti­cul­tur­al­is­mo e inter­sec­cional­i­dade (APA, 2017).
  • Capac­i­tação Con­tínua: Ofer­e­cer treina­men­tos para profis­sion­ais em ativi­dade, apri­moran­do suas habil­i­dades e con­hec­i­men­tos (Sue & Sue, 2016).
  • Políti­cas Insti­tu­cionais Inclu­si­vas: Imple­men­tar políti­cas que pro­movam diver­si­dade e equidade den­tro das orga­ni­za­ções (Mood­ley & Ocam­po, 2014).
  • Enga­ja­men­to Comu­nitário: Esta­b­ele­cer parce­rias com comu­nidades para adap­tar serviços às neces­si­dades locais (APA, 2017).

A adoção dessas alter­na­ti­vas pode levar a mel­ho­rias sig­ni­fica­ti­vas na práti­ca psi­cológ­i­ca, como o apri­mora­men­to das habil­i­dades clíni­cas e o for­t­alec­i­men­to da aliança ter­apêu­ti­ca (Hall et al., 2016). Na sociedade, espera-se uma redução nas desigual­dades em saúde men­tal e um aumen­to no aces­so a serviços de qual­i­dade para pop­u­lações diversas.

Tomada de Decisão

A toma­da de decisão envolve escol­her as alter­na­ti­vas mais efi­cazes e viáveis, con­sideran­do recur­sos, impacto poten­cial e via­bil­i­dade políti­ca (Sec­chi, 2010). Uma abor­dagem integra­da que com­bine revisões cur­ric­u­lares com capac­i­tação con­tínua e políti­cas insti­tu­cionais inclu­si­vas pode max­i­mizar os benefícios.

Essa fase é cru­cial para asse­gu­rar que as decisões refli­tam as neces­si­dades reais dos profis­sion­ais e das comu­nidades. A par­tic­i­pação ati­va de diver­sos stake­hold­ers na toma­da de decisão aumen­ta a legit­im­i­dade das políti­cas e a prob­a­bil­i­dade de suces­so na imple­men­tação (Sec­chi, 2010).

Implementação

A imple­men­tação é a fase em que as políti­cas e estraté­gias são colo­cadas em práti­ca. Isso requer plane­ja­men­to detal­ha­do, alo­cação de recur­sos e geren­ci­a­men­to eficaz.

  • Nas Insti­tu­ições Acadêmi­cas: A atu­al­iza­ção dos cur­rícu­los prepara futur­os psicól­o­gos para atu­arem de for­ma com­pe­tente em con­tex­tos mul­ti­cul­tur­ais (Bertram et al., 2018).
  • Nas Orga­ni­za­ções Profis­sion­ais: Pro­gra­mas de capac­i­tação con­tínua man­têm os profis­sion­ais atu­al­iza­dos e apri­moram a qual­i­dade dos serviços presta­dos (Arredon­do et al., 1996).
  • Nas Comu­nidades: O enga­ja­men­to comu­nitário for­t­alece a relação entre profis­sion­ais e clientes, pro­moven­do inter­venções mais efi­cazes e cul­tural­mente rel­e­vantes (Palmer-Wack­er­ly et al., 2014).

Os impactos dessa fase incluem o apri­mora­men­to da práti­ca profis­sion­al, maior sat­is­fação dos clientes e o for­t­alec­i­men­to do teci­do social através da pro­moção da inclusão e respeito à diver­si­dade (Mood­ley & Ocam­po, 2014).

Avaliação

A avali­ação é essen­cial para medir a eficá­cia das políti­cas imple­men­tadas e iden­ti­ficar áreas de mel­ho­ria (Abad, 2017). Uti­lizan­do indi­cadores como mel­ho­rias na com­petên­cia mul­ti­cul­tur­al dos profis­sion­ais e aumen­to na sat­is­fação dos clientes, é pos­sív­el ajus­tar estraté­gias e garan­tir a con­tinuidade dos avanços (Hall et al., 2016).

Na psi­colo­gia, a avali­ação con­tínua pro­move uma cul­tura de excelên­cia e apren­diza­gem. Na sociedade, asse­gu­ra que os serviços presta­dos aten­dam às neces­si­dades reais das pop­u­lações diver­sas, con­tribuin­do para a justiça social e redução de desigual­dades (Royse et al., 2015).

Extinção ou Renovação

A fase final impli­ca decidir sobre a con­tinuidade das políti­cas com base nos resul­ta­dos da avali­ação. Dada a natureza dinâmi­ca das iden­ti­dades cul­tur­ais e das relações soci­ais, a ren­o­vação con­tínua das dire­trizes e práti­cas é essen­cial (APA, 2017).

A sus­tentabil­i­dade dos impactos pos­i­tivos depende da capaci­dade das insti­tu­ições e profis­sion­ais de adaptarem-se a novas deman­das e con­tex­tos. Isso pro­move uma psi­colo­gia que não ape­nas responde às neces­si­dades atu­ais, mas tam­bém ante­ci­pa e se prepara para desafios futur­os (Palmer & Parish, 2008).

Impacto Global na Psicologia e na Sociedade

A inte­gração das fas­es do mod­e­lo de Sec­chi com a imple­men­tação das dire­trizes mul­ti­cul­tur­ais gera um impacto abrangente:

  • Para os Profis­sion­ais: Desen­volvi­men­to de com­petên­cias avançadas, maior sat­is­fação profis­sion­al e recon­hec­i­men­to no cam­po (Sue et al., 2022).
  • Para os Clientes: Aces­so a serviços mais efi­cazes e cul­tural­mente sen­síveis, mel­ho­ran­do os resul­ta­dos em saúde men­tal (APA, 2017).
  • Para a Sociedade: Pro­moção da justiça social, redução de desigual­dades e for­t­alec­i­men­to da coesão social (Palmer & Parish, 2008).

Ape­sar dos bene­fí­cios, há desafios a serem super­a­dos, como resistên­cia à mudança, lim­i­tações de recur­sos e a neces­si­dade de avali­ação con­tínua (Royse et al., 2015). Abor­dar ess­es desafios requer com­pro­mis­so e colab­o­ração entre todos os stake­hold­ers envolvidos.

As per­spec­ti­vas futuras são otimis­tas, com a cres­cente con­sci­en­ti­za­ção sobre a importân­cia da com­petên­cia mul­ti­cul­tur­al e a disponi­bil­i­dade de frame­works como o mod­e­lo de Sec­chi para guiar a imple­men­tação efi­caz de políti­cas (Sec­chi, 2014).

Conclusão

A cres­cente diver­si­dade cul­tur­al nas sociedades con­tem­porâneas apre­sen­ta desafios e opor­tu­nidades sig­ni­fica­tivos para a práti­ca da psi­colo­gia. A imple­men­tação das dire­trizes mul­ti­cul­tur­ais da APA, quan­do anal­isa­da através do mod­e­lo de políti­cas públi­cas de Sec­chi, rev­ela-se não ape­nas necessária, mas tam­bém estratég­i­ca para pro­mover uma práti­ca profis­sion­al mais inclu­si­va, efi­caz e social­mente responsável.

Evi­den­ciou-se que a fal­ta de com­petên­cia mul­ti­cul­tur­al entre os profis­sion­ais pode resul­tar em atendi­men­tos inad­e­qua­dos, reforço de desigual­dades e per­pet­u­ação de injustiças soci­ais. A apli­cação do mod­e­lo de Sec­chi per­mi­tiu uma abor­dagem estru­tu­ra­da para iden­ti­ficar ess­es prob­le­mas, mobi­lizar os atores rel­e­vantes, for­mu­lar e imple­men­tar estraté­gias efi­cazes, além de avaliar con­tin­u­a­mente os resul­ta­dos obtidos.

A inte­gração das dire­trizes mul­ti­cul­tur­ais impacta pos­i­ti­va­mente tan­to os profis­sion­ais quan­to os clientes. Para os psicól­o­gos, pro­por­ciona um apri­mora­men­to das habil­i­dades clíni­cas, maior sat­is­fação profis­sion­al e uma práti­ca alin­ha­da com os princí­pios éti­cos de respeito e val­oriza­ção da diver­si­dade. Para os clientes e comu­nidades, resul­ta em um aces­so ampli­a­do a serviços de saúde men­tal de qual­i­dade, cul­tural­mente sen­síveis e capazes de aten­der às suas neces­si­dades específicas.

Além dos bene­fí­cios dire­tos, a imple­men­tação dessas dire­trizes con­tribui para a pro­moção da justiça social, redução de desigual­dades e for­t­alec­i­men­to do teci­do social. Ao val­orizar a diver­si­dade cul­tur­al e pro­mover a inclusão, a psi­colo­gia desem­pen­ha um papel cru­cial na con­strução de sociedades mais equi­tati­vas e harmoniosas.

É impor­tante recon­hecer que esse proces­so não está isen­to de desafios. A resistên­cia à mudança, a lim­i­tação de recur­sos e a neces­si­dade de avali­ação con­tínua são obstácu­los que exigem com­pro­me­ti­men­to e colab­o­ração entre profis­sion­ais, insti­tu­ições e comu­nidades. A super­ação dess­es desafios requer uma visão com­par­til­ha­da da importân­cia da com­petên­cia mul­ti­cul­tur­al e um inves­ti­men­to con­tín­uo em edu­cação, treina­men­to e políti­cas inclusivas.

As per­spec­ti­vas futuras apon­tam para uma psi­colo­gia cada vez mais integra­da com as deman­das soci­ais, capaz de se adap­tar às mudanças e con­tribuir efe­ti­va­mente para o bem-estar indi­vid­ual e cole­ti­vo. A ren­o­vação con­tínua das práti­cas, sus­ten­ta­da por mod­e­los teóri­cos sóli­dos como o de Sec­chi, asse­gu­ra que a profis­são per­maneça rel­e­vante e respon­si­va aos desafios do sécu­lo xxi.

Para con­cluir, a imple­men­tação das dire­trizes mul­ti­cul­tur­ais da APA, ori­en­ta­da pelo mod­e­lo de políti­cas públi­cas de Sec­chi, rep­re­sen­ta um avanço sig­ni­fica­ti­vo na pro­moção de uma psi­colo­gia mais humana, éti­ca e com­pro­meti­da com a diver­si­dade. É um chama­do à ação para todos os envolvi­dos na área –des­de profis­sion­ais em atu­ação até edu­cadores e for­mu­ladores de políti­cas –para que jun­tos con­stru­am uma práti­ca psi­cológ­i­ca que refli­ta e honre a rica tapeçaria cul­tur­al de nos­sas sociedades.

Referências

Abad, A. (2017). “Políti­cas Públi­cas: Con­ceitos, esque­mas de análise, casos práti­cos”, de Leonar­do Sec­chi. 2(1), 11.

________. (2022). Dire­trizes mul­ti­cul­tur­ais da Asso­ci­ação Amer­i­cana de Psi­colo­gia: mod­e­lo bioecológi­co de Bron­fen­bren­ner. Inte­gración Académi­ca en Psi­cología, 10(29).

________. (2024). Psi­colo­gia Tran­scul­tur­al e Mul­ti­cul­tur­al­is­mo. Em Mon­teiro Cam­pos Luis Anto­nio & Da Sil­va José Apare­ci­do (Orgs.), Inter­cul­tur­al­i­dade: Uma Visão Ger­al (1o ed, Vol. 1, p. 113). Lugar de Fala.

Amer­i­can Psy­cho­log­i­cal Asso­ci­a­tion. (2017). Mul­ti­cul­tur­al Guide­lines: An Eco­log­i­cal Approach to Con­text, Iden­ti­ty, and Inter­sec­tion­al­i­ty, 2017.

Arredon­do, P., Toporek, R., Brown, S. P., Jones, J., Locke, D. C., Sanchez, J., & Stadler, H. (1996). Oper­a­tional­iza­tion of the Mul­ti­cul­tur­al Coun­sel­ing Com­pe­ten­cies. Jour­nal of Mul­ti­cul­tur­al Coun­sel­ing and Devel­op­ment, 24(1), 42–78. https://doi.org/10.1002/j.2161–1912.1996.tb00288.x

Bertram, R. M., Choi, S.-W., & Elsen, M. (2018). Inte­grat­ing Imple­men­ta­tion Sci­ence and Evi­dence-Based Prac­tice Into Aca­d­e­m­ic and Field Cur­ric­u­la. Jour­nal of Social Work Edu­ca­tion, 54(sup1), S20–S30. https://doi.org/10.1080/10437797.2018.1434441

Bron­fen­bren­ner, U. (1979). The ecol­o­gy of human devel­op­ment: Exper­i­ments by nature and design. Har­vard Uni­ver­si­ty Press.

Cren­shaw, R. P., & Vistnes, L. M. (1989). A decade of pres­sure sore research: 1977–1987. J Reha­bil Res Dev, 26(1), 63–74.

Hall, G. C. N., Yip, T., & Zárate, M. A. (2016). On becom­ing mul­ti­cul­tur­al in a mono­cul­tur­al research world: A con­cep­tu­al approach to study­ing eth­no­cul­tur­al diver­si­ty. Amer­i­can Psy­chol­o­gist, 71(1), 40.

Mclean, C., Camp­bell, C., & Cor­nish, F. (2003). African-Caribbean inter­ac­tions with men­tal health ser­vices in the UK: Expe­ri­ences and expec­ta­tions of exclu­sion as (re)productive of health inequal­i­ties. Social Sci­ence & Med­i­cine, 56(3), 657–669. https://doi.org/10.1016/S0277-9536(02)00063–1

Mood­ley, R., & Ocam­po, M. (2014). Crit­i­cal psy­chi­a­try and men­tal health. New York and Lon­don: Rout­ledge.

Palmer, A., & Parish, J. (2008). Social Jus­tice and Coun­selling Psy­chol­o­gy: Sit­u­at­ing the Role of Grad­u­ate Stu­dent Research, Edu­ca­tion, and Train­ing. Cana­di­an Jour­nal of Coun­selling, 42(4), 278–292.

Palmer-Wack­er­ly, A. L., Krok, J. L., Dai­ley, P. M., Kight, L., & Krieger, J. L. (2014). Com­mu­ni­ty Engage­ment as a Process and an Out­come of Devel­op­ing Cul­tur­al­ly Ground­ed Health Com­mu­ni­ca­tion Inter­ven­tions: An Exam­ple from the DECIDE Project. Amer­i­can Jour­nal of Com­mu­ni­ty Psy­chol­o­gy, 53(3–4), 261–274. https://doi.org/10.1007/s10464-013‑9615‑1

Royse, D., Thy­er, B. A., & Pad­gett, D. (2015). Pro­gram eval­u­a­tion. Cen­gage.

Sec­chi, L. (2014). Políti­cas públi­cas: Con­ceitos, esque­mas de análise, casos práti­cos. Cen­gage Learning.

Sue, D. W., Sue, D., Neville, H. A., & Smith, L. (2022). Coun­sel­ing the cul­tur­al­ly diverse: The­o­ry and prac­tice. John Wiley & Sons.

Vester­gren, S., Drury, J., & Ham­mar Chiri­ac, E. (2019). How par­tic­i­pa­tion in col­lec­tive action changes rela­tion­ships, behav­iours, and beliefs: An inter­view study of the role of inter- and intra­group process­es. Jour­nal of Social and Polit­i­cal Psy­chol­o­gy, 7(1), 76–99. https://doi.org/10.5964/jspp.v7i1.903

Deja un comentario