O MODELO INTEGRATIVO DE DESENVOLVIMENTO DE TALENTOS E A PERSPECTIVA BIOECOLÓGICA DE BRONFENBRENNER: CONVERGÊNCIAS E COMPLEMENTARIDADES

THE INTEGRATIVE TALENT DEVELOPMENT MODEL AND BRONFENBRENNER’S BIOECOLOGICAL PERSPECTIVE: CONVERGENCES AND COMPLEMENTARITIES

Alberto Abad
Altemir José Gonçalves Barbosa

Universidad Federal de Juiz de Fora

Resumen

Artic­u­lar difer­entes dis­ci­plinas, mod­e­los y teorías en un cuer­po inte­gra­do de estu­dio de los pro­ce­sos de desar­rol­lo es uno de los grandes desafíos en el cam­po de las Cien­cias del Desar­rol­lo Humano que, al tra­ba­jar con las trans­for­ma­ciones en el tiem­po, se ha car­ac­ter­i­za­do por su per­fil normativo/seminormativo. lejos de fenó­menos idios­in­crási­cos que definen lo que es especí­fi­co de cier­tos indi­vid­u­os y no es nece­sari­a­mente aplic­a­ble a todas o a un gran grupo de per­sonas. Entre estos, aque­l­los que pre­sen­tan déficits o capaci­dades muy por enci­ma de la media a pesar de haber naci­do y cre­ci­do en cir­cun­stan­cias con­sid­er­adas “nor­males”. Des­de esta per­spec­ti­va, el obje­ti­vo de este artícu­lo es artic­u­lar las con­ver­gen­cias y com­ple­men­tariedades entre el Mod­e­lo Bioecológi­co de Bron­fen­bren­ner y el Mod­e­lo Inte­grador de Desar­rol­lo del Tal­en­to de Gag­né, con el obje­ti­vo de con­tribuir al estu­dio de la Cien­cia del Desar­rol­lo Humano com­bi­nan­do tan­to patrones típi­cos de cam­bio (desar­rol­lo nor­ma­ti­vo) como indi­vid­uales. difer­en­cias Los ele­men­tos con­ver­gentes y com­ple­men­tar­ios encon­tra­dos se cen­tran en tres ejes: los pro­ce­sos prox­i­males y el pro­ce­so de desar­rol­lo del tal­en­to; car­ac­terís­ti­cas per­son­ales y catal­izadores intrap­er­son­ales; y el momen­to y el pro­gre­so tem­po­ral del desar­rol­lo del talento.

Pal­abras clave: Mod­e­lo Bioecológi­co de Bron­fen­bren­ner. Mod­e­lo Inte­gra­ti­vo de Desar­rol­lo del Tal­en­to. Desar­rol­lo del talento.

Resumo

Artic­u­lar difer­entes dis­ci­plinas, mod­e­los e teo­rias em um cor­po inte­gra­do de estu­do dos proces­sos de desen­volvi­men­to é um dos grandes desafios no cam­po da Ciên­cia do Desen­volvi­men­to Humano que, ao tra­bal­har com as trans­for­mações ao lon­go do tem­po, tem se car­ac­ter­i­za­do pelo seu per­fil normativo/seminormativo, afa­s­tan­do-se dos fenô­menos idioss­in­cráti­cos que definem o que é próprio de deter­mi­na­dos indi­ví­du­os e não nec­es­sari­a­mente é aplicáv­el a todos ou a um grande grupo de pes­soas. Den­tre estas, aque­las que apre­sen­tam déficits ou capaci­dades muito aci­ma da média ape­sar de terem nasci­do e cresci­do em cir­cun­stân­cias con­sid­er­adas “nor­mais”. Nes­sa per­spec­ti­va, o obje­ti­vo desse arti­go é artic­u­lar as con­vergên­cias e com­ple­men­tari­dades entre o Mod­e­lo Bioecológi­co de Bron­fen­bren­ner e o Mod­e­lo Inte­gra­ti­vo de Desen­volvi­men­to de Tal­en­tos de Gag­né alme­jan­do con­tribuir ao estu­do da Ciên­cia do Desen­volvi­men­to Humano ao com­bi­nar tan­to padrões típi­cos de mudança (desen­volvi­men­to nor­ma­ti­vo) quan­to difer­enças indi­vid­u­ais. Os ele­men­tos con­ver­gentes e com­ple­mentares encon­tra­dos cen­tram-se em três eixos: os proces­sos prox­i­mais e proces­so de desen­volvi­men­to de tal­en­tos; as car­ac­terís­ti­cas pes­soais e catal­isadores intrapes­soais; e o cronos­sis­tema e pro­gres­so tem­po­ral do desen­volvi­men­to de talentos.

Palavras-chave: Mod­e­lo Bioecológi­co de Bron­fen­bren­ner. Mod­e­lo Inte­gra­ti­vo de Desen­volvi­men­to de Tal­en­tos. Desen­volvi­men­to de talentos.

Introdução

Em um con­tex­to da glob­al­iza­ção, um dos grandes desafios no cam­po da Ciên­cia do Desen­volvi­men­to Humano é artic­u­lar difer­entes dis­ci­plinas, mod­e­los e teo­rias em um cor­po inte­gra­do de estu­do dos proces­sos de desen­volvi­men­to humano (DESSEN; MACIEL, 2014), que o con­sid­erem como uma con­tinuidade e, tam­bém, como uma série de mudanças sis­temáti­cas, padronizadas e rel­a­ti­va­mente duradouras ao lon­go da vida, da con­cepção à morte (BALTES, 1987). Mudanças ao lon­go da vida são deter­mi­nadas por uma série de influên­cias que os indi­ví­du­os em desen­volvi­men­to neces­si­tam proces­sar, reagin­do e agin­do à medi­da que suas vidas transcorrem.

Baltes (1987) propôs uma tax­ono­mia para essas influên­cias denom­i­na­da mod­e­lo trifa­to­r­i­al: as grad­u­adas pela idade, isto é, aque­las com­par­til­hadas por todos os seres humanos com car­ac­terís­ti­cas genéti­co-biológ­i­cas e ambi­en­tais e que têm uma forte relação com a idade cronológ­i­ca, como o desen­volvi­men­to pré-natal, nascer com um alto grau de ima­turi­dade, cam­in­har e falar a uma cer­ta idade etc.; as grad­u­adas pela história, ou seja, as que são rela­cionadas ao tem­po e ao con­tex­to históri­co de uma deter­mi­na­da ger­ação, como crises econômi­cas e soci­ais, avanços tec­nológi­cos, grandes mudanças edu­ca­cionais, guer­ras civis, migrações etc.; e as influên­cias não nor­ma­ti­vas, cuja prin­ci­pal car­ac­terís­ti­ca é não seguir um cur­so ger­al e pre­visív­el e, desse modo, sua ocor­rên­cia, padroniza­ção e sequen­ci­a­men­to não são aplicáveis a muitos indi­ví­du­os, nem estão clara­mente vin­cu­la­dos a uma dimen­são do tem­po de desen­volvi­men­to, como gan­har na lote­ria, encon­tros casuais, mudanças aci­den­tais de car­reira, realo­cação etc. Essas três for­mas de influên­cias oper­am ao lon­go da vida, seus efeitos se acu­mu­lam com o tem­po e são respon­sáveis por como as vidas se desen­volvem (BALTES, 1987); (BALTES; SMITH, 2004).

Desse modo, exis­tem car­ac­terís­ti­cas do desen­volvi­men­to humano que seguem uma sequên­cia mais pre­visív­el quan­to mais próx­i­mo estiv­er o indi­ví­duo do princí­pio da sua tra­jetória vital. Ain­da que o desen­volvi­men­to ocor­ra em con­ta­to com o ambi­ente, parte do códi­go genéti­co, rela­ciona­da aos traços da espé­cie que são fun­da­men­tais para garan­tir seu futuro, é muito inflexív­el e seus “planos” são exe­cu­ta­dos ape­sar de as condições ambi­en­tais (PALACIOS, 2004). Con­tu­do, para Got­tlieb (2003), a epigê­nese humana tem um desen­volvi­men­to não deter­minís­ti­co, mas prob­a­bilís­ti­co e aber­to às influên­cias ambi­en­tais. O ambi­ente pode influ­en­ciar para que os con­teú­dos psi­cológi­cos e as capaci­dades se man­i­festem como uma espé­cie de “platafor­ma de lança­men­to” (PALACIOS, 2004), porém sem saber se apare­cerão e nem quais serão.

Quan­to mais dis­tante o indi­ví­duo está do iní­cio da tra­jetória vital, menos pre­visíveis e menos rela­ciona­dos à mat­u­ração os desen­volvi­men­tos se tor­nam (BALTES, 1987). A influên­cia da cul­tura, as car­ac­terís­ti­cas do momen­to históri­co no inte­ri­or de uma deter­mi­na­da cul­tura, a diver­si­dade que a car­ac­ter­i­za (p.ex., sub­gru­pos soci­ais exis­tentes nela) e as car­ac­terís­ti­cas indi­vid­u­ais (p.ex., genéti­ca e exper­iên­cias pes­soais) se tor­nam fun­da­men­tais. O apren­diza­do, destarte, tor­na-se um fator críti­co para o desenvolvimento.

Nesse sen­ti­do, a Ciên­cia do Desen­volvi­men­to Humano, ao tra­bal­har com as trans­for­mações ao lon­go do tem­po e ter como obje­to de estu­do a con­du­ta humana, tem se car­ac­ter­i­za­do pelo seu per­fil normativo/seminormativo ou, em out­ras palavras, pela sua aplic­a­bil­i­dade a todos os seres humanos ou a grandes gru­pos deles (BALTES, 1987), afa­s­tan­do-se dos fenô­menos idioss­in­cráti­cos, que definem o que é próprio de deter­mi­na­dos indi­ví­du­os e não nec­es­sari­a­mente é aplicáv­el a todos ou a um grande grupo de pes­soas, como cri­anças que apre­sen­tam déficits ou capaci­dades muito aci­ma da média ape­sar de terem nasci­do e cresci­do em cir­cun­stân­cias con­sid­er­adas “nor­mais”.

Pos­to isso, é imper­a­ti­vo inte­grar, em uma per­spec­ti­va mul­ti­dis­ci­pli­nar, o estu­do do desen­volvi­men­to humano com teo­rias e mod­e­los que com­preen­dam os proces­sos humanos nos níveis intrap­síquico, inter­pes­soal e soci­etal de análise, com­bi­nan­do tan­to padrões típi­cos de mudança (desen­volvi­men­to nor­ma­ti­vo) quan­to difer­enças indi­vid­u­ais. Esse é o sen­ti­do de artic­u­lar, neste tex­to, o Mod­e­lo Bioecológi­co (MB) (BRONFENBRENNER, 1977, 1979; 1992; 1999), (BRONFENBRENNER; MORRIS, 1998; 2006) e o Mod­e­lo Inte­gra­ti­vo de Desen­volvi­men­to de Tal­en­tos (GAGNÉ, 1986; 1998; 2008; 2013a; 2013b; 2015; 2016; 2018), (GAGNÉ; MCPHERSON, 2016), (BÉLANGER; GAGNÉ, 2006).

Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner

Na déca­da de 1970, as ciên­cias soci­ais, como a Soci­olo­gia, a Antropolo­gia e a Psi­colo­gia, recon­heci­am a importân­cia de inte­grar seus obje­tos de estu­do par­tic­u­lares em um tra­bal­ho mul­ti­dis­ci­pli­nar que apro­fun­dasse e facil­i­tasse a com­preen­são dos fenô­menos de desen­volvi­men­to do indi­ví­duo, da sociedade e da cul­tura em for­ma mais abrangente e inte­gral (MOTA, 2005). Nesse cenário, com o intu­ito de reori­en­tar a tradi­cional con­cepção atom­ista da psi­colo­gia que estu­da os proces­sos psi­cológi­cos, despon­tam as ideias de Urie Bron­fen­bren­ner que, no seu livro The ecol­o­gy of human devel­op­ment: exper­i­ments by nature and design (1979), ques­tion­a­va as teo­rias que con­sid­er­avam o desen­volvi­men­to e o con­tex­to inde­pen­dentes um do out­ro, sep­a­ran­do os atrib­u­tos pes­soais da cul­tura. Assim, propõe a Teo­ria Ecológ­i­ca, que define o desen­volvi­men­to como uma mudança duradoura na maneira pela qual uma pes­soa percebe e lida com seu ambi­ente (BRONFENBRENNER, 1979).

As ideias orig­i­nais de Bron­fen­bren­ner (1979) tiver­am sub­se­quentes refor­mu­lações no intu­ito de descr­ev­er e explicar, em for­ma mais detal­ha­da, o desen­volvi­men­to humano em um mod­e­lo que con­sid­erasse, por um lado, as pro­priedades da pes­soa e suas inter­ações ou proces­sos prox­i­mais e, por out­ro, incluísse o fator tem­po (DESSEN; MACIEL, 2014) ou, em out­ros ter­mos, a evolução de uma Teo­ria Ecológ­i­ca para uma per­spec­ti­va Bioecológ­i­ca car­ac­ter­i­za­da por uma tran­sição de um foco no meio ambi­ente e no con­tex­to para uma visão cen­tra­da nos proces­sos prox­i­mais (BRONFENBRENNER; MORRIS, 2006).

Bron­fen­bren­ner e Mor­ris (2006) ressaltam que o MB teve muitas influên­cias rela­cionadas à inves­ti­gação teóri­ca e empíri­ca sobre o desen­volvi­men­to humano, den­tre elas a psi­colo­gia cul­tur­al de Cole (1995) e a psi­colo­gia life-span (BALTES; LINDENBERGER; STAUDINGER, 2007). Con­tu­do, o con­stru­to orig­i­nal desse mod­e­lo foi deriva­do da fór­mu­la clás­si­ca de Kurt Lewin, que con­sid­er­a­va o com­por­ta­men­to como uma função con­jun­ta da pes­soa e do ambi­ente. Bron­fen­bren­ner sub­sti­tu­iu o ter­mo com­por­ta­men­to por desen­volvi­men­to (NARVAZ; KOLLER, 2004), que foi definido por Bron­fen­bren­ner e Mor­ris (2006) como con­tinuidade e mudanças nas car­ac­terís­ti­cas biop­si­co­log­i­cas indi­vid­u­ais e gru­pais e como fenô­meno que se des­do­bra ao lon­go da vida, através de ger­ações con­sec­u­ti­vas e do tem­po. O mod­e­lo nascente, por­tan­to, propõe que o desen­volvi­men­to humano seja estu­da­do por meio da inter­ação sinér­gi­ca de qua­tro núcleos inter-rela­ciona­dos: Proces­so-Pes­soa-Con­tex­to-Tem­po (PPCT) (BRONFENBRENNER; MORRIS, 2006) e, reit­era-se, foi denom­i­na­do como MB. Há que se assi­nalar que as con­tribuições de Bron­fen­bren­ner mudaram ao lon­go do tem­po, pas­san­do por três fas­es de evolução (KREBS, 1997) e, para evi­tar inco­erên­cias teóri­c­as, o pre­sente tex­to está alicerça­do no MB como descrito prin­ci­pal­mente por Bron­fen­bren­ner e Mor­ris (2006).

Den­tre as pro­priedades definido­ras do MB, o proces­so, como primeiro con­stru­to do mod­e­lo, con­sti­tui seu núcleo e abrange as difer­entes for­mas de inter­ação entre organ­is­mo e ambi­ente (BRONFENBRENNER; MORRIS, 2006). Con­tu­do, para os autores, o pro­du­to mais promis­sor do MB é a demon­stração dos proces­sos prox­i­mais (PP), que rep­re­sen­tam uma espé­cie de motores do desen­volvi­men­to. Os autores defini­ram-nos como for­mas par­tic­u­lares de inter­ação entre organ­is­mo e ambi­ente ime­di­a­to que oper­am com o tem­po. Ess­es proces­sos foram pos­tu­la­dos como os mecan­is­mos primários que pro­duzem o desen­volvi­men­to humano. Den­tro de cer­tos lim­ites, o ser humano, por meio deles, têm alter­ado a natureza e o cur­so de seu próprio desen­volvi­men­to como espé­cie (BRONFENBRENNER; MORRIS, 2006). São for­mas duradouras de inter­ações reg­u­lares entre pes­soas, obje­tos e sím­bo­los por perío­dos de tem­po deter­mi­na­dos. No microssis­tema (p. ex., ambi­ente famil­iar e esco­lar), a pes­soa expe­ri­en­cia, percebe e con­fere sig­nifi­ca­do aos PP (DESSEN; MACIEL, 2014).

Não obstante, para com­preen­der a dinâmi­ca e poder dos PP, é pre­ciso con­sid­er­ar os out­ros três con­stru­tos da teo­ria: 1) as car­ac­terís­ti­cas da pes­soa (CP) em desen­volvi­men­to; 2) a influên­cia do microssis­tema, mesos­sis­tema, exos­sis­tema e macrossis­tema, isto é, con­tex­tos ambi­en­tais ime­di­atos e mais remo­tos); e 3) o papel dos perío­dos de tem­po em que os PP ocor­rem (cronos­sis­tema) (BRONFENBRENNER; MORRIS, 2006).

No que tange às CP, assev­era-se que elas são pro­du­toras e pro­du­tos do desen­volvi­men­to ao influ­en­cia­rem a for­ma, a força, o con­teú­do e a direção dos PP (DESSEN; MACIEL, 2014). Bron­fen­bren­ner e Mor­ris (2006) desta­cam três dessas car­ac­terís­ti­cas pela sua capaci­dade de afe­tar a direção e o poder dos PP ao lon­go da vida e pela sua influên­cia na definição do cur­so do desen­volvi­men­to futuro (BRONFENBRENNER; MORRIS, 1998). A primeira delas diz respeito às dis­posições, que ofer­e­cem ou não movi­men­to e via­bil­i­dade oper­a­ti­va aos PP e que podem ser car­ac­terís­ti­cas ger­ado­ras ou com­por­ta­men­tos ativos (p. ex., curiosi­dade, tendên­cia para se enga­jar em ativi­dades indi­vid­u­ais ou gru­pais, respos­ta à ini­cia­ti­va de out­ros e autoeficá­cia) e disruptivas/inibidoras ou com­por­ta­men­tos pas­sivos [impul­sivi­dade, explo­sivi­dade, difi­cul­dade de man­ter o con­t­role e a inte­gração do com­por­ta­men­to em difer­entes domínios (NARVAZ; KOLLER, 2004), apa­tia, desatenção, irre­spon­s­abil­i­dade, inse­gu­rança, timidez exces­si­va etc.], sendo que estas difi­cul­tam o proces­so de desen­volvi­men­to (DESSEN; MACIEL, 2014). A segun­da abrange os recur­sos bioecológi­cos que moldam as com­petên­cias (p. ex., capaci­dades, exper­iên­cias, con­hec­i­men­tos e habil­i­dades) ou defi­ciên­cias (p. ex., prob­le­mas genéti­cos, baixo peso, defi­ciên­cias físi­cas ou men­tais) que mod­u­lam o fun­ciona­men­to efe­ti­vo dos PP. Como ter­ceira car­ac­terís­ti­ca, propõem as deman­das pes­soais que des­en­cadeiam ou des­en­co­ra­jam reações do ambi­ente social, estim­u­lan­do ou inibindo a oper­ação dos PP (BRONFENBRENNER & MORRIS, 2006), incluin­do car­ac­terís­ti­cas pes­soais, como aparên­cia físi­ca, com­por­ta­men­to, atrib­u­tos demográ­fi­cos (p.ex., idade, gênero e etnia) que podem influ­en­ciar pos­i­ti­va ou neg­a­ti­va­mente as reações do ambi­ente (DESSEN; MACIEL, 2014).

Os PP tam­bém estão dire­ta­mente rela­ciona­dos ao desen­volvi­men­to das capaci­dades do indi­ví­duo, uma vez que as CP incluem tan­to a sua cog­nição em con­tex­to quan­to suas car­ac­terís­ti­cas socioe­mo­cionais e moti­va­cionais como resul­ta­do da inter­ação con­jun­ta dos atrib­u­tos deter­mi­na­dos biop­si­co­logi­ca­mente e aque­les con­struí­dos na sua inter­ação com o ambi­ente (BRONFENBRENNER, 1992). À medi­da que as cri­anças crescem, suas capaci­dades de desen­volvi­men­to se expan­dem em nív­el e ampli­tude e, con­se­quente­mente, os PP cor­re­spon­dentes para con­tin­uarem efe­tivos devem se tornar mais exten­sivos e com­plex­os no intu­ito de facil­i­tar a real­iza­ção dos poten­ci­ais evo­lu­tivos (DESSEN; MACIEL, 2014). As CP, por­tan­to, podem estim­u­lar ou inibir o desen­volvi­men­to, nen­hu­ma o influ­en­cia de for­ma iso­la­da, pre­cisan­do, por­tan­to, serem com­preen­di­das em uma per­spec­ti­va mais abrangente.

Refor­mu­lan­do o mod­e­lo orig­i­nal (BRONFENBRENNER, 1979), o MB incor­po­ra os três tipos de CP descritos ante­ri­or­mente à definição do microssis­tema, incluin­do as car­ac­terís­ti­cas das pes­soas sig­ni­fica­ti­vas, reg­u­lares e por lon­gos perío­dos de tem­po na vida da pes­soa em desen­volvi­men­to (pais, par­entes, ami­gos ínti­mos, pro­fes­sores, men­tores, cole­gas de tra­bal­ho, côn­juges etc.) (BRONFENBRENNER; MORRIS, 2006). Assim, a inclusão do microssis­tema refor­mu­lou a anti­ga metá­fo­ra dos qua­tro níveis ambi­en­tais na for­ma de estru­turas con­cên­tri­c­as inseri­das uma na out­ra, como espé­cie de Bonecas Rus­sas (BRONFENBRENNER 1979), para difer­en­ciar, expandir e inte­grar ain­da mais a con­ceitu­al­iza­ção orig­i­nal do ambiente.

O segun­do con­stru­to-chave do MB, isto é, o con­tex­to com­preende a inter­ação de qua­tro níveis ambi­en­tais (microssis­tema, mesos­sis­tema, exos­sis­tema e macrossis­tema). No núcleo cen­tral, o microssis­tema é definido como um intrin­ca­do con­jun­to de relações entre a pes­soa e o ambi­ente ime­di­a­to em que está inseri­da, con­sideran­do fatores como o número de par­tic­i­pantes, as car­ac­terís­ti­cas físi­cas do lugar, as ativi­dades desen­volvi­das, os papéis soci­ais e as relações inter­pes­soais em um deter­mi­na­do ambi­ente mate­r­i­al e físi­co (RIBAS; MOURA, 2006). O MB enfa­ti­za a con­tribuição dire­ta dos PP para o desen­volvi­men­to na inter­ação não somente com pes­soas, mas tam­bém com obje­tos e sím­bo­los (BRONFENBRENNER; MORRIS, 2006), incluin­do uma série de aspec­tos rel­e­vantes, como estéti­ca e nív­el de con­for­to, fatores con­tex­tu­ais impor­tantes para o bem-estar da pes­soa (LOMAS; HEFFERON; IVTZAN, 2016).

Em um nív­el mais abrangente, o mesos­sis­tema inclui inter­ações, relações e proces­sos (DESSEN; MACIEL, 2014) que ocor­rem entre dois ou mais ambi­entes nos quais a pes­soa em desen­volvi­men­to par­tic­i­pa ati­va­mente e é con­tin­u­a­mente mod­i­fi­ca­da quan­do começa a par­tic­i­par deles (RIBAS; MOURA, 2006). Ref­ere-se à inter­ação entre microssis­temas, recon­hecen­do que as pes­soas exis­tem em con­tex­tos inter­rela­ciona­dos que jun­tos afe­tam o fun­ciona­men­to, os padrões de comu­ni­cação e out­ras influên­cias bidi­re­cionais (SHERIDAN et al., 2004). O exos­sis­tema, como uma exten­são do mesos­sis­tema, abrange os ambi­entes dos quais a pes­soa não par­tic­i­pa dire­ta­mente, porém neles ocor­rem even­tos sig­ni­fica­tivos que influem nela (RIBAS; MOURA, 2006). É a estru­tu­ra social mais ampla que influi nos microssis­temas pes­soais (BRONFENBRENNER, 1977). Ref­ere-se essen­cial­mente à comu­nidade em que se vive (LOMAS; HEFFERON; IVTZAN, 2016) e alude às relações e proces­sos inter­con­tex­tu­ais, em que pelo menos um dess­es mesos­sis­temas não con­tém a pes­soa em proces­so de desen­volvi­men­to. Esse nív­el ultra­pas­sa os con­tex­tos ime­di­atos da pes­soa ao incluir, por exem­p­lo, estru­turas soci­ais, for­mais e infor­mais, como a rede social de apoio, comu­nidade e viz­in­hança, o tra­bal­ho dos pais e famil­iares, as insti­tu­ições soci­ais, os meios de trans­porte e a comu­ni­cação em mas­sa, as insta­lações e serviços de cuida­do infan­til e os espaços de recreação, cul­tura e exercício.

O macrossis­tema se ref­ere a padrões insti­tu­cionais abrangentes em escala nacional e inter­na­cional (BRONFENBRENNER, 1977). Inclui crenças, ide­olo­gias, religiões, val­ores, class­es soci­ais, etnias e raças que, como padrões insti­tu­cionais, sus­ten­tam a cul­tura em que a pes­soa se desen­volve e são con­ce­bidos não ape­nas em ter­mos estru­tu­rais, ou seja, sis­temas econômi­co, social, edu­ca­cional e políti­co, mas como por­ta­dores de infor­mação que, implíci­ta e explici­ta­mente, dão sig­nifi­ca­do e moti­vação às redes soci­ais, aos agentes par­tic­u­lares e aos papéis e ativi­dades soci­ais (DESSEN;& MACIEL, 2014). Out­rossim, Lomas, Hef­fer­on e Ivtzan (2016) incluem o ecos­sis­tema refletindo a ideia de que todos os out­ros níveis estão incor­po­ra­dos em um con­tex­to ain­da maior da biosfera.

Bron­fen­bren­ner e Mor­ris (2006) con­sid­er­am como sig­ni­fica­ti­va a cres­cente agi­tação e insta­bil­i­dade nos prin­ci­pais ambi­entes em que a com­petên­cia e o caráter humanos são mod­e­la­dos (crises soci­ais, políti­cas e finan­ceiras fre­quentes advin­das de uma glob­al­iza­ção frag­men­ta­da, influên­cia da mídia dig­i­tal e avanços tec­nológi­cos e cien­tí­fi­cos etc.), impactan­do na família (papéis famil­iares e cuida­dos com as cri­anças etc.), na edu­cação, na sociedade em ger­al etc. Por isso, o mod­e­lo de Bron­fen­bren­ner de 1979 que pouco men­ciona a dimen­são do tem­po foi refor­mu­la­do, sendo que o MB (BRONFENBRENNER; MORRIS, 2006) incluiu o quar­to e últi­mo con­stru­to: o cronos­sis­tema. Ele per­mite exam­i­nar as mudanças e con­tinuidades que ocor­rem ao lon­go do ciclo de vida e sua influên­cia sobre o desen­volvi­men­to humano. O cronos­sis­tema rep­re­sen­ta um aspec­to chave do mod­e­lo pro­pos­to por Bron­fen­bren­ner ao ultra­pas­sar o cur­so de vida da pes­soa e incluir toda a história da sociedade. O autor define o cronos­sis­tema como a mudança ou con­sistên­cia ao lon­go do tem­po das car­ac­terís­ti­cas da pes­soa e do ambi­ente em que essa pes­soa vive (BRONFENBRENNER, 1994) e é con­sti­tuí­do por três níveis: microtem­po; mesotem­po; e macrotem­po (NARVAZ; KOLLER, 2004).

No primeiro nív­el, microtem­po, Bron­fen­bren­ner e Mor­ris (2006) se ref­er­em às con­tinuidades e descon­tinuidades obser­vadas em episó­dios dos PP que ocor­rem com reg­u­lar­i­dade e em ambi­entes estáveis. Já o mesotem­po inclui inter­va­l­os mais amp­los e cujos efeitos cumu­la­tivos pro­duzem resul­ta­dos sig­ni­fica­tivos para o desen­volvi­men­to. No nív­el do macrotem­po, o foco recai nas expec­ta­ti­vas e mudanças de uma sociedade ao lon­go de ger­ações, con­sideran­do como esta influi e é influ­en­ci­a­da pelos proces­sos e resul­ta­dos do desen­volvi­men­to no cur­so de vida (BRONFENBRENNER; MORRIS, 2006); (DESSEN; MACIEL, 2014).

Con­sideran­do o MB como um mod­e­lo robus­to e abrangente, é necessário uti­lizar tam­bém um mod­e­lo que con­sidere com mais especi­fi­ci­dade dotação e tal­en­to (D&T) e que incor­pore e artic­ule o fator tem­po e as mudanças soci­ais e históri­c­as no proces­so de desen­volvi­men­to. Craw­ford, Sny­der e Adel­son (2019) argu­men­tam que o IMTD pos­sui essas características.

Modelo Integrativo de Desenvolvimento de Talentos

Os prin­ci­pais con­stru­tos DMGT são com­pos­tos pelo trio bási­co (GAGNÉ, 2013b), quais sejam, dotação, tal­en­to e Proces­so de Desen­volvi­men­to, e dois ele­men­tos adi­cionais denom­i­na­dos catal­isadores intrapes­soais e ambi­en­tais, que pos­suem o papel de facil­i­ta­dores no proces­so de desen­volvi­men­to (Figu­ra 1).

Ain­da que sejam sep­a­ra­dos teori­ca­mente, são con­stru­tos rela­ciona­dos e inter­de­pen­dentes uma vez fazem parte de um proces­so que cor­re­sponde ao pro­gres­si­vo desen­volvi­men­to da dotação em tal­en­tos (GAGNÉ, 2013b). O DMGT foi cri­a­do para assi­nalar a dis­tinção entre D&T. Nele, a dotação é defini­da como a posse e uso de capaci­dades nat­u­rais sobres­salentes anco­radas bio­logi­ca­mente e desen­volvi­das infor­mal­mente (GAGNÉ, 2018) em um grau que colo­ca a pes­soa entre os 10% mel­hores de seus pares. Já o tal­en­to é con­sid­er­a­do como o domínio dessas habil­i­dades ou com­petên­cias a par­tir de um desen­volvi­men­to sis­temáti­co que se man­i­fes­tam em pelo menos um cam­po da ativi­dade humana e que alo­ca a pes­soa entre os 10% mais desta­ca­dos na sua espe­cial­i­dade (GAGNÉ, 2013a).

Figura 1. Modelo Diferencial de Dotação e Talento (baseado em Gagné, 2015).

Gag­né (2015) con­sid­era que ambos con­ceitos impli­cam um proces­so inte­gral e dinâmi­co em que se dis­tinguem dois momen­tos: no primeiro, isto é, G (dotação), obser­va-se o poten­cial e a capaci­dade, com ênfase no futuro; e, num segun­do momen­to, ou seja, T (tal­en­to), há a fase de real­iza­ção de aptidões ou com­petên­cias, com ênfase no pre­sente. Ref­ere-se, por­tan­to, à avali­ação difer­en­cial entre aptidões e real­iza­ções, ape­sar de ambas con­sti­tuírem algu­ma for­ma de desem­pen­ho. Como comen­ta Gag­né (2013a), não exis­tem nec­es­sari­a­mente medi­das de difer­en­ci­ação de ambos momen­tos ao serem parte de um proces­so mais abrangente.

Angoff (1988) propôs dez car­ac­terís­ti­cas difer­en­ci­ado­ras entre aptidões (capaci­dades) e medi­das de real­iza­ção (habil­i­dades) que incluem três ele­men­tos: con­teú­do, proces­sos e propósi­to. Nesse sen­ti­do, no que se ref­ere ao seu con­teú­do, Gag­né (2013b) con­sid­era que as aptidões (capaci­dades nat­u­rais ou dotação) são mais gerais e rep­re­sen­tam aquisições mais anti­gas. No que con­cerne às com­petên­cias (habil­i­dades sis­tem­ati­ca­mente desen­volvi­das ou tal­en­to), elas pos­suem um con­teú­do mais especí­fi­co e rep­re­sen­tam aquisições recentes e sua trans­fer­ên­cia para out­ras situ­ações. No que se ref­ere aos proces­sos, as capaci­dades pos­suem um fun­da­men­to genéti­co com um desen­volvi­men­to mais lento, são resistentes à estim­u­lação e apren­di­das mais infor­mal­mente. As com­petên­cias, porém, pos­suem um com­po­nente cen­tra­do na práti­ca, desen­volvem-se mais rap­i­da­mente, são suscetíveis à estim­u­lação e apren­di­das mais for­mal­mente. Final­mente, quan­to ao propósi­to, as capaci­dades são prospec­ti­vas (pre­visão de apren­diza­do futuro) enquan­to as com­petên­cias são de uso ret­ro­spec­ti­vo (avalian­do o apren­diza­do), lim­i­tadas a pes­soas sis­tem­ati­ca­mente expostas a apren­diza­gem for­mal (ABAD; ABAD, 2020).

Out­ro ele­men­to impor­tante do DMGT diz respeito à prevalên­cia de D&T e à neces­si­dade de um con­sen­so entre os profis­sion­ais a esse respeito. No arti­go A Pro­pos­al for Sub­cat­e­gories with­in Gift­ed or Tal­ent­ed Pop­u­la­tions (1998) Gag­né uti­li­zou o 90º per­centil e o sis­tema métri­co como como lim­i­ar para a D&T no DMGT. Den­tre as razões para essa escol­ha, o autor con­sider­ou que uma expressão matemáti­ca seria mais fácil de enten­der para aque­les que não estão famil­iar­iza­dos com a psi­come­tria e que essa pro­porção se aprox­i­ma do pon­to médio da gama de sug­estões obser­vadas nas pesquisas (GAGNÉ, 2013b). Con­sider­ou cin­co níveis estru­tu­ra­dos hier­ar­quica­mente, cada um deles incluin­do os 10% supe­ri­ores: mod­er­ada­mente supe­ri­or (10%); supe­ri­or (1%); alta­mente supe­ri­or (1:1.000); excep­cional­mente supe­ri­or (1:10.000); e extrema­mente ou pro­fun­da­mente supe­ri­or (1:100.000) (GAGNÉ, 2013a).

Pelo fato de as capaci­dades nat­u­rais geral­mente se man­i­festarem na infân­cia ou na ado­lescên­cia, exis­tem obser­vadores lei­gos que acred­i­tam que são inatas. Porém, Gag­né não com­par­til­ha desse pon­to de vista. Ele con­sid­era que as capaci­dades nat­u­rais não têm essa car­ac­terís­ti­ca (GAGNÉ, 2016). Para ele, a dotação se obser­va mais facil­mente em cri­anças peque­nas porque as ativi­dades sis­temáti­cas de apren­diza­do for­mal ain­da não a trans­for­maram em tal­en­tos especí­fi­cos. Os traços de dotação apare­cem por meio do exer­cí­cio infor­mal e dos proces­sos de mat­u­ração (GAGNÉ, 2013a). O com­po­nente G agru­pa as capaci­dades nat­u­rais em seis sub­com­po­nentes denom­i­na­dos domínios: qua­tro per­ten­centes ao domínio men­tal (int­elec­tu­al, cria­ti­vo, social, per­cep­ti­vo) e dois ao domínio físi­co (mus­cu­lar, con­t­role motor) (GAGNÉ, 2015).

A dotação pos­sui um con­teú­do mais ger­al do que o tal­en­to, tem um sub­stra­to genéti­co e se desen­volve mais lenta­mente que este. Con­tu­do, Gag­né (2015) pon­dera que a car­ac­terís­ti­ca mais sobres­salente das pes­soas com dotação é a facil­i­dade e a rapi­dez no apren­diza­do e a facil­i­dade de uti­lizar suas capaci­dades nat­u­rais no proces­so de apren­diza­gem. Isso as difer­en­cia de out­ras pes­soas na sua mes­ma faixa etária. O tal­en­to é o resul­ta­do do proces­so do desen­volvi­men­to e é pro­du­to de treina­men­to sis­temáti­co das capaci­dades nat­u­rais excep­cionais (GAGNÉ, 2015). Com base nesse com­po­nente do DMGT, é pos­sív­el com­preen­der, por exem­p­lo, o desen­volvi­men­to de prodí­gios, isto é, a cri­ança com habil­i­dades desen­volvi­das (Às vezes sem treina­men­to sis­temáti­co.) ao nív­el de um profis­sion­al adul­to (ABAD; ABAD, 2020).

Gag­né (2013a) con­sid­era que o proces­so de desen­volvi­men­to de tal­en­to (D) é con­sti­tuí­do por três sub­com­po­nentes: as ativi­dades, o inves­ti­men­to e o pro­gres­so. O proces­so ini­cia quan­do uma cri­ança, um ado­les­cente ou um adul­to se tor­na tal­en­tee [Neol­o­gis­mo uti­liza­do por Gag­né (2015) para descr­ev­er as pes­soas que fazem parte ati­va de um pro­gra­ma de desen­volvi­men­to de tal­en­tos] depois de um proces­so de indi­cação ou iden­ti­fi­cação. A par­tir deste momen­to, o tal­en­tee tem aces­so a um pro­gra­ma sis­temáti­co de lon­go pra­zo estru­tu­ra­do por uma série de ativi­dades que incluem um con­teú­do especí­fi­co ou cur­rícu­lo e são facil­i­tadas em um ambi­ente de apren­diza­do car­ac­terís­ti­co. Con­tu­do, é pos­sív­el que esse ambi­ente seja ou não estru­tu­ra­do, incluin­do, desse modo, a apren­diza­gem auto­di­da­ta (GAGNÉ, 2015; 2016).

O segun­do sub­com­po­nente do D ref­ere-se ao inves­ti­men­to, que está rela­ciona­do com a inten­si­dade do proces­so de desen­volvi­men­to, con­sideran­do o tem­po, os recur­sos finan­ceiros e a ener­gia psi­cológ­i­ca (GAGNÉ, 2013a). Final­mente o ter­ceiro sub­com­po­nente alude ao pro­gres­so. Este está divi­di­do em uma série de fas­es ou está­gios: num proces­so total, des­de o momen­to em que os tal­en­tees aces­sam o pro­gra­ma até o seu desem­pen­ho máx­i­mo. Assim sendo, o tal­en­tee pode ser clas­si­fi­ca­do em: nova­to, avança­do, pro­fi­ciente e espe­cial­ista. Con­tu­do, seu rit­mo é sua prin­ci­pal rep­re­sen­tação quan­ti­ta­ti­va (GAGNÉ, 2015).

Por con­seguinte, o D está estru­tu­ra­do a lon­go pra­zo num pro­gra­ma de ativi­dades de apren­diza­gem anco­ra­do em um cur­rícu­lo acadêmi­co con­stan­te­mente desafi­ador dire­ciona­do para a con­se­cução de metas de excelên­cia de alto nív­el. Segun­do Gag­né (2013a), o D pre­cisa de inter­venções opor­tu­nas, de um pro­gra­ma de treinamento/currículo enrique­ci­do, do agru­pa­men­to das habil­i­dades em perío­do inte­gral, do enriquec­i­men­to sis­temáti­co diário, de obje­tivos de excelên­cia pes­soal, de critérios de aces­so alta­mente sele­tivos e de estim­u­lação per­son­al­iza­da e acelerada.

Destarte, como pro­du­to do treina­men­to sis­temáti­co de capaci­dades nat­u­rais excep­cionais, isto é, desen­volvi­men­to (D), o tal­en­to rep­re­sen­ta o polo de desem­pen­ho no con­tin­u­um poten­cial-desem­pen­ho (GAGNÉ, 2013a). Neste sen­ti­do, no que tange aos sub­com­po­nentes (domínios), o DMGT agru­pa as com­petên­cias (tal­en­to) uti­lizan­do a Tipolo­gia de Estru­turas Voca­cionais (TEV) de Hol­land (GAGNÉ, 2015). A TEV con­sid­era que as prefer­ên­cias ocu­pa­cionais expres­sam car­ac­terís­ti­cas de inter­esse e de per­son­al­i­dade e, ape­sar de suas com­bi­nações per­mi­tirem até 720 difer­entes padrões ou sub­ti­pos propõe seis tipolo­gias prin­ci­pais: Real­ista, Inves­tiga­ti­va, Artís­ti­ca, Social, Empreende­do­ra e Con­ven­cional (RIASEC) (MCDERMOTT; DELL, 2014). Para com­ple­tar esta tax­ono­mia, Gag­né (2015) adi­ciona três sub­com­po­nentes: dis­ci­plinas acadêmi­cas pré-ocu­pa­cionais, jogos e esportes.

Os dois ele­men­tos adi­cionais do trio bási­co pro­pos­to por Gag­né (2013b) são denom­i­na­dos catal­isadores intrapes­soais (I) e ambi­en­tais (E), que pos­suem o papel de facil­i­ta­dores no proces­so. O autor uti­liza o con­ceito de catal­isadores empresta­do do cam­po da quími­ca para se referir metafori­ca­mente ao papel facil­i­ta­dor dos ele­men­tos que estão envolvi­dos indi­re­ta­mente em um proces­so quími­co (ABAD; ABAD, 2020). Como con­cepção análo­ga, os catal­isadores influ­en­ci­am o desen­volvi­men­to (D) (Gag­né, 2015) e se divi­dem em: intrapes­soais, – ou seja, car­ac­terís­ti­cas indi­vid­u­ais que definem aos próprios tal­en­tees; e ambi­en­tais, isto é, – onde o proces­so de desen­volvi­men­to se desenrola.

Na primeira dimen­são dos catal­isadores intrapes­soais (I), encon­tram-se, por um lado, tan­to os traços físi­cos (p. ex., aparên­cia ger­al, car­ac­terís­ti­cas raci­ais ou étni­cas, defi­ciên­cias, doenças crôni­cas etc.) quan­to os men­tais (p. ex., tem­pera­men­to, per­son­al­i­dade etc.), que influ­en­ci­am no proces­so de desen­volvi­men­to de tal­en­to (GAGNÉ, 2015). Por out­ro lado, na segun­da dimen­são, na qual podem ser obser­va­dos os proces­sos ori­en­ta­dos para obje­tivos ou geren­ci­a­men­to de metas, incluem-se três sub­com­po­nentes: Con­sciên­cia, Moti­vação e Volição. No que diz respeito ao primeiro sub­com­po­nente, é impor­tante salien­tar que o ter­mo em inglês uti­liza­do por Gag­né (2013a) para con­sciên­cia é aware­ness que em sua acepção orig­i­nal está rela­ciona­do com a per­cepção ou con­hec­i­men­to de uma situ­ação ou fato, de “dar-se con­ta”. Nesse sen­ti­do, quan­do a pes­soa é ciente de seus pon­tos fortes e fra­cos e recon­hece a influên­cia dos fatores intrapes­soais e ambi­en­tais, o proces­so de desen­volvi­men­to de seus tal­en­tos é facil­i­ta­do (ABAD; ABAD, 2020).

A difer­en­ci­ação entre os sub­com­po­nentes Moti­vação e Volição é uma das car­ac­terís­ti­cas que robustece o mod­e­lo DMGT. Nesse sen­ti­do, Gag­né (2015) uti­liza a Teo­ria de Con­t­role da Ação (Action Con­trol The­o­ry) para explicar como as pes­soas se com­pro­m­e­tem com as metas, especi­f­i­can­do as estraté­gias do proces­sa­men­to pré-deci­sion­al e pós-deci­sion­al. Esta teo­ria inclui um dos tópi­cos que mais inter­es­sam aos pesquisadores edu­ca­cionais no cam­po da for­mação docente: as capaci­dades cona­ti­vas (moti­vação e volição), que podem explicar as difer­enças indi­vid­u­ais na apren­diza­gem e no desem­pen­ho (CORNO, 1993). Para Gag­né (2013a), existe uma difer­ença entre ativi­dades de iden­ti­fi­cação de obje­tivos (Moti­vação) e de obtenção de metas (Volição). No que se ref­ere a como atin­gir o obje­ti­vo, o con­ceito de volição inclui o esforço e os proces­sos de con­cen­tração e atenção. Desse modo, aju­dam o proces­so de aprendizagem.

Gag­né (2013a) comen­ta, em relação aos catal­isadores ambi­en­tais (E), que estes podem ser divi­di­dos em três sub­com­po­nentes: Meio, Indi­ví­du­os e Recur­sos. O primeiro pode ser anal­isa­do de acor­do com vários níveis, ten­do como base os estí­mu­los que os tal­en­tees pri­or­izam. Inclui uma diver­si­dade de influên­cias ambi­en­tais: físi­cas (p. ex., cli­ma e vida rur­al ver­sus cli­ma e vida urbana etc.); soci­ais; políti­cas; finan­ceiras; e cul­tur­ais (GAGNÉ, 2015). Inclu­sive, pode ser exam­i­na­do em níveis macroscópi­cos (p. ex., geográ­fi­cos, demográ­fi­cos e soci­ológi­cos) e microscópi­cos (p. ex., taman­ho da família, sta­tus socioe­conômi­co e estru­tu­ra famil­iar) (GAGNÉ, 2013a). O segun­do sub­com­po­nente se ref­ere à influên­cia psi­cológ­i­ca de pes­soas impor­tantes no ambi­ente ime­di­a­to das pes­soas com dotação, como pais, irmãos, pro­fes­sores, treinadores, pares, men­tores ou fig­uras públi­cas ado­tadas como mod­e­los (GAGNÉ, 2015). Final­mente, o sub­com­po­nente Recur­sos, tra­ta de facil­i­ta­dores do desen­volvi­men­to de tal­en­tos, incluin­do as fac­etas tradi­cionais de enriquec­i­men­to cur­ric­u­lar, práti­cas admin­is­tra­ti­vas e con­teú­do (GAGNÉ, 2015).

O Modelo de Desenvolvimento das Capacidades Naturais

Gag­né, ao refle­tir sobre a influên­cia das capaci­dades nat­u­rais e suas raízes biológ­i­cas, obser­vou que pre­cisa­va con­sid­erá-las em algum lugar do DMGT. Destarte, desen­volveu o Mod­e­lo de Desen­volvi­men­to das Capaci­dades Nat­u­rais (DMNA) respon­den­do às seguintes questões fun­da­men­tais: Onde os fun­da­men­tos biológi­cos das car­ac­terís­ti­cas humanas se aco­modam em um proces­so glob­al de desen­volvi­men­to de tal­en­tos? Como as capaci­dades nat­u­rais se desen­volvem? Espe­cial­mente durante os primeiros está­gios da vida? E por que não é ade­qua­do con­sid­er­ar as capaci­dades nat­u­rais como inatas? (GAGNÉ, 2015). Com intu­ito de respon­der essas questões, o autor real­i­zou algu­mas alter­ações teóri­c­as, den­tre elas: deter­mi­nar a base biológ­i­ca do DMGT, con­sideran­do as prin­ci­pais cat­e­go­rias e níveis; explic­i­tar a inter­ação dinâmi­ca entre as bases biológ­i­cas e out­ras influên­cias respon­sáveis pelo desen­volvi­men­to de capaci­dades nat­u­rais – DMNA; e cri­ar o Mod­e­lo Inte­gra­ti­vo de Desen­volvi­men­to de Tal­en­tos (IMDT) como a sín­tese do DMGT e do DMNA (GAGNÉ, 2015).

A base biológ­i­ca das capaci­dades nat­u­rais se man­i­fes­ta de diver­sas maneiras: expressão gêni­ca em pro­teí­nas; car­ac­terís­ti­cas anatômi­cas ou mor­fológ­i­cas; ativi­dade neu­rofi­si­ológ­i­ca; e out­ros proces­sos (GAGNÉ, 2013a). No que tange ao “lugar” ocu­pa­do pelos fun­da­men­tos biológi­cos das car­ac­terís­ti­cas humanas no proces­so glob­al de desen­volvi­men­to de tal­en­tos, Gag­né (2013a) propõe o DMNA (Figu­ra 2) como uma orga­ni­za­ção hierárquica em três níveis: base quími­ca infe­ri­or ou fun­dações genotípi­cas; o embasa­men­to fisi­ológi­co (p. ex., proces­sos micro­bi­ológi­cos e fisi­ológi­cos); e o embasa­men­to mor­fológi­co supe­ri­or (car­ac­terís­ti­cas anatômi­cas que podem afe­tar as capaci­dades ou os catal­isadores intrapes­soais). Descreve as bases biológ­i­cas do mod­e­lo uti­lizan­do a metá­fo­ra de um prédio.

Figura 2. Bases biológicas do modelo DMNA (Baseado em Gagné, 2015).

Modelo Integrativo de Desenvolvimento de Talentos

Como cul­mi­nação de suas reflexões teóri­c­as, Gag­né (2016) inte­grou o DMGT e o DMNA em um mod­e­lo que mostra como o Desen­volvi­men­to de tal­en­tos tem suas ori­gens no surg­i­men­to pro­gres­si­vo de capaci­dades nat­u­rais, des­de o com­plexo proces­so de embri­ogê­nese. Ele con­sid­era que elas tomam for­ma lenta­mente em difer­entes níveis de expressão de uma pes­soa para out­ra, graças aos facil­i­ta­dores denom­i­na­dos de catal­isadores (GAGNÉ, 2013a; 2018) (Figu­ra 3).

Figura 3. Modelo Integrativo de Desenvolvimento de Talentos (IMTD) (Baseado em Gagné, 2015).

Interfaces entre o Modelo Bioecológico e o Modelo Integrativo de Desenvolvimento do Talento

Como evi­den­ci­a­do por Abad e Bar­bosa (2019), o Mod­e­lo Bioecológi­co e o Mod­e­lo Inte­gra­ti­vo de Desen­volvi­men­to do Tal­en­to pos­suem ele­men­tos con­ver­gentes, porém pou­ca atenção tem sido dada a essas inter­faces. Assim, com o intu­ito de con­tribuir para uma visão mais críti­ca, integra­da e abrangente dos proces­sos de indi­cação, iden­ti­fi­cação e desen­volvi­men­to de D&T, são apre­sen­tadas algu­mas artic­u­lações entre os mod­e­los segun­do três eixos: 1) Proces­sos Prox­i­mais (PP) e Proces­so de Desen­volvi­men­to de D&T (D); 2) Car­ac­terís­ti­cas Pes­soais e Catal­isadores Intrapes­soais (I); 3) Cronos­sis­tema e Pro­gres­so do desen­volvi­men­to de D&T.

Processos Proximais e Processo de Desenvolvimento de Talentos

Gag­né (2015) con­sid­era, no IMTD, o tal­en­to como o resul­ta­do do treina­men­to sis­temáti­co das capaci­dades nat­u­rais excep­cionais ou, em out­ros ter­mos, do fato de a pes­soa com dotação estar em uma ativi­dade rela­ciona­da a suas capaci­dades de for­ma reg­u­lar, por perío­dos pro­lon­ga­dos de tem­po e com ativi­dades pro­gres­si­va­mente mais desafi­ado­ras que estim­ulem, dessa maneira, seu inter­esse e com­pro­me­ti­men­to com a tare­fa – ativi­dades, pro­gres­so e inves­ti­men­to (GAGNÉ, 2015). Con­se­quente­mente, os três sub­com­po­nentes pro­pos­tos por Gag­né são com­patíveis com os PP no MB, con­ceito que se ref­ere aos fatores de desen­volvi­men­to humano em ger­al (BRONFENBRENNER; MORRIS, 2006) ao tal­en­to em par­tic­u­lar, que abrangem a neces­si­dade de a pes­soa estar enga­ja­da em uma ativi­dade, a inter­ação acon­te­cer reg­u­lar­mente em perío­dos pro­lon­ga­dos de tem­po, as ativi­dades serem pro­gres­si­va­mente mais com­plexas, que a rec­i­pro­ci­dade ocor­rer nas relações inter­pes­soais e os sím­bo­los pre­sentes no ambi­ente ime­di­a­to estim­u­la­rem a pes­soa em desen­volvi­men­to (BRONFENBRENNER; MORRIS, 1998).

No MB, evi­den­cia-se a influên­cia da teo­ria de Vygot­sky (1998) no que se ref­ere ao con­ceito de Zona de Desen­volvi­men­to Prox­i­mal (ZDP), que diz respeito à dis­tân­cia entre o esta­do de desen­volvi­men­to real ou atu­al da pes­soa e de seu poten­cial. Quan­to à per­spec­ti­va de Gag­né, é pos­sív­el esta­b­ele­cer analo­gias entre ZDP e D. Nesse sen­ti­do, Bron­fen­bren­ner e Mor­ris (1998) con­sid­er­am a importân­cia tan­to da rec­i­pro­ci­dade das relações inter­pes­soais da pes­soa em desen­volvi­men­to quan­to a neces­si­dade de que os sím­bo­los pre­sentes no ambi­ente ime­di­a­to estim­ulem a sua atenção, explo­ração, manip­u­lação e imaginação.

Os PP (BRONFENBRENNER; MORRIS, 1998) e o D (GAGNÉ, 2015) pos­suem ele­men­tos con­ver­gentes, como men­ciona­do ante­ri­or­mente. Além dis­so, o IMTD se ben­e­fi­cia é com­ple­men­ta com o MB ao con­sid­er­ar que, no proces­so de desen­volvi­men­to de tal­en­tos, as ativi­dades têm sig­nifi­ca­do em um deter­mi­na­do con­tex­to social e cul­tur­al e são influ­en­ci­adas, con­struí­das e trans­for­madas nas tro­cas com out­ras pes­soas dotadas e mem­bros do grupo social. Por seu turno, Ribas e Moura (2006) advertem que Bron­fen­bren­ner, ao obser­var os sím­bo­los pre­sentes no ambi­ente ime­di­a­to como estí­mu­los para a pes­soa em desen­volvi­men­to, con­sid­era instru­men­tos, sig­nos e práti­cas cul­tur­ais como medi­adores, car­rega­dos de sig­nifi­cação cultural.

Características Pessoais e Catalisadores Intrapessoais

No IMTD, as man­i­fes­tações da base biológ­i­ca das capaci­dades nat­u­rais (p. ex., genéti­ca, endo e exo-fenóti­pos) estão orga­ni­za­dos hier­ar­quica­mente em três níveis (fun­dações genotípi­cas, embasa­men­to fisi­ológi­co e embasa­men­to mor­fológi­co supe­ri­or) que afe­tam dire­ta­mente os I e, por­tan­to, o desen­volvi­men­to das capaci­dades nat­u­rais excep­cionais ou dotação G (GAGNÉ, 2013a). Para o MB, a hered­i­tariedade pas­sa a ser ele­men­to chave, pois os PP são vis­tos como os mecan­is­mos por meio dos quais genóti­pos se trans­for­mam em fenóti­pos (KREBS; COPETTI; BELTRANE, 1997).

Bron­fen­bren­ner & Mor­ris (1998) con­sid­er­am que as car­ac­terís­ti­cas pes­soais não pos­suem, por si próprias, nen­hu­ma dis­posição sele­ti­va para a ação, porém influ­en­ci­am a capaci­dade de um organ­is­mo se ocu­par efe­ti­va­mente em PP. Podem, por um lado, se man­i­fes­tar como lim­i­tações, rompen­do a inte­gri­dade fun­cional de um organ­is­mo (p. ex., defeitos genéti­cos, danos cere­brais cau­sa­dos por aci­dentes, difi­cul­dades físi­cas, proces­sos degen­er­a­tivos ou doenças sev­eras per­sis­tentes), ou como capaci­dades (p. ex., destrezas, exper­iên­cias pes­soais e con­hec­i­men­tos que se esten­dem a domínios em que os PP fazem seu tra­bal­ho con­stru­ti­vo) (COPETTI; KREBS, 2004). Nesse sen­ti­do, as car­ac­terís­ti­cas pes­soais podem fomen­tar ou inter­romper os PP no proces­so de desen­volvi­men­to da G, ao serem forças ger­ado­ras ou des­or­ga­ni­zado­ras que afe­tam a direção e o poder deles (BRONFENBRENNER; MORRIS, 1998).

As CP desta­cadas por Bron­fen­bren­ner e Mor­ris (1998) são con­dizentes com o con­ceito de I de Gag­né (2015) já que se ref­er­em ao papel facil­i­ta­dor ou difi­cul­ta­dor das car­ac­terís­ti­cas que definem aos próprios tal­en­tees e que influ­en­ci­am no D. Assim, a primeira (dis­posições) ofer­ece movi­men­to e via­bil­i­dade oper­a­ti­va – ou não – aos PP e podem ser car­ac­terís­ti­cas ger­ado­ras ou disruptivas/inibidoras (NARVAZ; KOLLER, 2004), A segun­da (recur­sos biológi­cos) con­sti­tui capaci­dades que facili­tam ou difi­cul­tam o fun­ciona­men­to efe­ti­vo dos PP. Ade­mais, as car­ac­terís­ti­cas pes­soais des­en­cadeiam ou des­en­co­ra­jam reações do ambi­ente social – p. ex., aparên­cia físi­ca atra­ti­va ver­sus sem graça, bebês agi­ta­dos ver­sus felizes, pas­sivi­dade ver­sus hiper­a­tivi­dade (COPETTI; KREBS, 2004), – estim­u­lan­do ou inibindo os PP (BRONFENBRENNER; MORRIS, 2006).

Cronossistema e Progresso do desenvolvimento de Talentos

Bron­fen­bren­ner e Mor­ris (2006), con­sideran­do as mudanças e a insta­bil­i­dade dos prin­ci­pais ambi­entes em que as com­petên­cias e caráter humanos são mod­e­la­dos, incluem, no MB, o cronos­sis­tema, que per­mite exam­i­nar as mudanças e con­tinuidades ao lon­go do cur­so de vida e sua influên­cia sobre o desen­volvi­men­to humano. O cronos­sis­tema rep­re­sen­ta um aspec­to chave do mod­e­lo de Bron­fen­bren­ner, já que tran­scende a dimen­são pes­soas, incluin­do a história da sociedade. O autor define o cronos­sis­tema como a mudança ou con­sistên­cia ao lon­go do tem­po, das car­ac­terís­ti­cas da pes­soa e do ambi­ente em que essa pes­soa vive (BRONFENBRENNER, 1992) e é con­sti­tuí­do por três níveis: microtem­po; mesotem­po; e macrotem­po (NARVAZ; KOLLER, 2004). Já o IMTD uti­liza a var­iáv­el tem­po ao descr­ev­er o proces­so de desen­volvi­men­to de tal­en­tos con­sid­era o pro­gres­so dos D&T como uma série de fas­es orga­ni­zadas numa tra­jetória de desen­volvi­men­to de lon­go pra­zo mar­ca­da por uma série de trans­for­mações mais ou menos cru­ci­ais (GAGNÉ, 2013a). O IMTD se con­cen­tra nas duas primeiras dimen­sões cronológ­i­cas (microtem­po e mesotem­po). Por sua vez, o MB ded­i­ca atenção espe­cial ao macrotem­po, que se ref­ere às mudanças de expec­ta­ti­vas e even­tos na sociedade em ger­al den­tro e através das ger­ações (BRONFENBRENNER; MORRIS, 2006), con­sideran­do os sím­bo­los, práti­cas, ativi­dades e instru­men­tos des­de uma per­spec­ti­va tan­to sin­cróni­ca, quan­to diacróni­ca. Assim, ambos se mostram complementares.

Considerações Finais

MB e IMTD pos­suem vários ele­men­tos con­ver­gentes. Todavia, como evi­den­ci­a­do na revisão sis­temáti­ca de Abad e Bar­bosa (2019), pou­ca atenção tem sido dada a essas inter­faces. Em sín­tese, as artic­u­lações entre os mod­e­los cen­tram-se em três eixos: 1) Proces­sos Prox­i­mais e proces­so de desen­volvi­men­to de Tal­en­tos; 2) Car­ac­terís­ti­cas Pes­soais e catal­isadores intrapes­soais; 3) cronos­sis­tema e pro­gres­so tem­po­ral do desen­volvi­men­to de talentos.

Essas artic­u­lações são decor­rentes da inter-relação entre as dimen­sões indi­vid­ual, social e cul­tur­al no proces­so de desen­volvi­men­to humano. Por con­seguinte, ressalta-se a importân­cia de estu­dar os proces­sos de desen­volvi­men­to nor­ma­ti­vo e idioss­in­cráti­co em um mod­e­lo inte­gra­do, que con­tribua para uma visão mais críti­ca e abrangente na indi­cação, iden­ti­fi­cação e desen­volvi­men­to de D&T.

Con­sid­era-se, tam­bém, que o MB com­ple­ta e robustece o mod­e­lo de Gag­né, ao con­sid­er­ar as mudanças nas sociedades e ao lon­go de ger­ações (macrotem­po); fatores vitais para enten­der o proces­so de desen­volvi­men­to de D&T tan­to por uma per­spec­ti­va sin­crôni­ca, quan­to um pris­ma diacrôni­co. Ade­mais, parafrase­an­do a Vygot­sky (1998), com­ple­men­ta-se que o homem, ao alter­ar o meio ambi­ente, mod­i­fi­ca sua própria natureza humana. Assim, o desen­volvi­men­to social e tec­nológi­co é pro­du­to e pro­du­tor de D&T.

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